A pandemia e os limites do mundo digital
Enildo Luiz Gouveia*
Em 09.07.2020
Há um dito que anuncia que tudo tem seu lado positivo. A pandemia imposta pela Covid-19, que colocou significativa parcela da população em isolamento social parcial ou total, ampliou os acessos à rede mundial de computadores, sobretudo nas interações com as redes sociais (twitter, whatApp, instagram, facebook, etc). Por outro lado, em países como o Brasil, este aumento do acesso mostrou que a chamada inclusão digital ainda está longe de ser alcançada.
A população mais pobre tem dificuldades para acessar a rede por muito tempo visto que em geral, usam dados móveis limitados. Muitas vezes, o acesso prolongado só é possível através de redes abertas de Wi-Fi (segundo o IBGE, em 2018 o número de pessoas sem acesso a internet era de 46 milhões de brasileiros). Soma-se a isto, o fato de que a maioria possui celular (ainda para o IBGE, mais de 90% do acesso a internet se dá por estes equipamentos). Mas, possuir um Personal Computer – PC ou notebook – é cada vez mais raro, fazendo com que seu uso venha diminuindo nas residências. Alguns irão dizer que hoje, graças aos aplicativos e a praticidade, pelo celular se faz quase tudo que se faria num PC ou notebook. Todavia, ainda há limites quando se trata de editar, escrever trabalhos escolares e acadêmicos, capacidade de armazenamento e funcionalidade de alguns programas, por exemplo.
Ou seja, estar conectado 24 horas por dia não significa que você é mais informado ou inteligente que outras pessoas. O mais importante é saber o que você está acessando, processando, refletindo e discutindo.
Algumas iniciativas de retorno às aulas de forma remota, principalmente na rede pública, escancararam esta realidade. Conexões fracas e limitadas, dispersão dos estudantes, professores/as semi-analfabetos digitais, entre outros gargalos, têm sido encontrados. Entre outras coisas, isto mostra que Inclusão Digital não é só acesso aos equipamentos (celulares, PCs, notebooks, tablets) e à internet. É preciso atentar para a qualidade destes e, ainda mais, atentar para a qualidade dos acessos. Ou seja, estar conectado 24 horas por dia não significa que você é mais informado ou inteligente que outras pessoas. O mais importante é saber o que você está acessando, processando, refletindo e discutindo. Na educação, ao contrário do que muita gente pensa, o ensino remoto (EAD) requer muito mais disciplina e concentração que o ensino presencial.
*Enildo Luiz Gouveia é professor de Geografia no IFPE/Campus Recife e membro da Academia Cabense de Letras.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.
Boa reflexão Enildo!