Vitalino, memória viva
Jénerson Alves*
Em 10.07.2020
A memória de um povo está na exaltação dos seus artistas. Se estivesse vivo, Mestre Vitalino completaria 111 anos nesta sexta-feira, 10 de julho de 2020. Nascido em 1909, em Ribeira dos Campos (Caruaru), Vitalino Pereira dos Santos teve sua obra reconhecida na década de 1940, sobretudo mediante uma iniciativa do pintor Augusto Rodrigues, que realizou uma exposição no Rio de Janeiro com as suas obras – a qual foi amplamente divulgada por intelectuais como os irmãos Condé e o poeta Manuel Bandeira. Desta feita, percebe-se a inserção do caruaruense no ambiente cultural brasileiro, o qual ainda sentia os impactos da Semana de Arte Moderna de 1922, mas já estava firmando os passos no aprofundamento dos temas trazidos pelos modernistas, que buscavam a consolidação de uma arte nacional. O consultor cultural Walmiré Dimeron costuma relembrar que Vitalino é reverenciado no mundo todo como mentor do conceito de Arte Popular.
Ele produziu mais de 100 peças, com traços expressionistas, representando o cotidiano do nordestino. Cenas do sertanejo, como casamento, caçada, nascimento, morte e questões religiosas foram algumas das temáticas retratadas pelas mãos do artista. A vida de Vitalino gerou repercussão no Alto do Moura. Há discípulos do Mestre por todo o local, que transformam o barro em vida – como uma espécie de metáforas do Deus Criador. Apesar das dificuldades existentes no Alto do Moura e em comunidades próximas – a exemplo de Taquara de Baixo e de Cima, e o Residencial Luiz Bezerra Torres –, a arte se levanta trazendo esperança para as pessoas.
É preciso manter vivo o legado do Mestre Vitalino, não apenas como uma imagem do passado, mas como autor de trabalhos com repercussão cultural e social que permanece até os dias de hoje. As novas gerações de artesãos devem perceber a cultura como um setor economicamente ativo. Para tanto, é imprescindível que a memória de ícones como Vitalino seja referenciada. O poder público e a sociedade civil devem se irmanar neste ideal.
Para encerrar, compartilho uma estrofe em martelo agalopado, feita em homenagem ao nosso ícone cultural aniversariante:
Foi formado de barro e hidrogênio,Tendo as mãos com essência criadora,Inventivo, de base propulsora;Era ingênuo pr’o mundo, mas foi gênio.É preciso passar mais de um milênioPara um gênio igual ele aqui chegar,Bem franzino, com rústico linguajar,Mas reflexo inconteste do Divino.Meus aplausos ao Mestre Vitalino,Grande herói da Cultura Popular!*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel.Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.Foto destaque: Pierre Verger