A Educação de Hugo de São Vítor

Por

Jénerson Alves*
Em 17.07.2020

De todas as coisas a serem buscadas, a primeira é…”

Hugo de São Vítor

Compreendido entre o ano 476 d.C., com a queda do Império Romano do Ocidente, e 1492, com a descoberta das Américas, o período denominado ‘Idade Média’ também é chamado de ‘Idade das Trevas’. Confesso que este epíteto sempre me causou espécie. Como pode um período que nos deu nomes como Dante Alighieri, Francisco Petrarca, Luís Vaz de Camões e São Tomás de Aquino (só para citar alguns) ser um momento tenebroso da história?

Um dos pensadores medievais que podem contribuir com o tempo atual é Hugo de São Vítor. Nascido em 1096 na Saxônia, onde hoje é a Alemanha, ainda jovem mudou-se para Paris e ingressou no Mosteiro de São Vítor. Assim como outros pensadores da época, ele se inquietava acerca de diversos assuntos. A partir desta inquietação, ele desenvolveu uma prática pedagógica com pilares na leitura, no estudo e na meditação.

De acordo com Hugo de São Vítor, o princípio do aprendizado é a humildade. Partindo deste princípio, ele apresenta três características indispensáveis ao estudante:

“A primeira é que não tenha como vil
nenhuma ciência e nenhuma escritura.

A segunda é que não se envergonhe
de aprender de ninguém.

A terceira é que,
quando tiver alcançado a ciência,
não despreze aos demais”.

Tais conselhos estão em consonância com o espírito da época do pedagogo. Naquele tempo, a motivação do estudo era a vida espiritual. Cerca de 400 anos depois, com o Renascimento, esta cosmovisão foi substituída pela formação do caráter. Posteriormente, as políticas educacionais foram orientadas para o desenvolvimento de habilidades visando ao mercado de trabalho. Nas últimas décadas, o que tem sido visto é o uso da educação para disseminação de conteúdos ideológicos, sobretudo de cunho materialista. O cenário da pandemia do novo coronavírus impeliu transformações na prática educacional. Em meio aos debates quanto à forma, talvez seja válido refletir sobre a essência da educação.

Para tanto, considero ser producente recordar que, para Hugo de São Vítor, o conteúdo do ensino filosófico é dividido em quatro grandes ciências, a saber: lógica, prática, mecânica e teórica. As três primeiras são para orientar o ser humano em sua vida natural e a última para conduzi-lo ao conhecimento supremo. Destarte, o próprio Hugo de São Vítor afirma:

“De todas as coisas a serem buscadas, a primeira é a Sapiência, na qual reside a forma do bem perfeito.

A Sapiência ilumina o homem para que conheça a si mesmo, ele que, quando não sabe que foi feito acima das outras coisas, acaba achando-se semelhante a qualquer coisa”.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
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