Crônicas

Lugares e pessoas

Enildo Luiz Gouveia*

Em 13.06.2025

Certa vez um jornalista perguntou pra uma pessoa o que era preciso pra ser feliz. Uma pergunta que acredito todos nós já nos fizemos alguma vez na vida ou já julgamos outras pessoas como sendo felizes ou infelizes. A verdade é que dificilmente alguém pode ser feliz completamente. A consciência que nos interpela diante da condição humana, de tantos desafios e injustiças, não nos deixa em paz. A não ser no caso das pessoas que, como na Matrix, vivem uma outra realidade forjada, mas que pra elas é real. Estão em sua zona de conforto e o resto, ou não existe ou é ignorado.

Eu acredito que um dos requisitos para sermos minimamente felizes é o lugar. Mas que lugar?  O lugar, como bem formulado pela Geografia Cultural, é ao seu modo, o mundo. Este lugar-mundo evidentemente não pode ser compreendido como uma alienação do global em detrimento do local. Ele é um local que reflete o global com afetividade, detalhes da vida cotidiana, das pessoas conhecidas e anônimas. O lugar é toda porção do espaço onde há conexão para além da racionalidade. Uma conexão não só com pessoas, mas com paisagens, ruas, movimentos, festas, tragédias, sons, linguagens e histórias.

Diante disso, vemos pessoas com poucos bens materiais, mas, aparentemente felizes. Uns gostam do agito dos grandes centros urbanos, enquanto outros preferem o ritmo dos lugares mais pacatos, onde o passar do tempo parece ser lento e onde as pessoas se conhecem pelo nome ou pela descendência familiar. Definitivamente, o ser humano necessita do lugar e de suas pessoas. Às vezes pode ser apenas uma rua, um povoado que guarda tantas lembranças vividas ou projetadas pela própria mente que faz uma viagem no tempo.

Os lugares não são estáticos. Acontece que para alguns é necessário que a dinâmica seja rápida, mesmo que haja perdas nesse frenesi. Já outros, a pressa não se justifica, pois a natureza dá o tom. No lugar se conversa (e se fofoca) de tudo mesmo que em alguns casos, de forma superficial. De banalidades aos problemas do país, das traições, do preço das coisas, dos falecimentos, da igreja e de uma infinidade de outras coisas. Nunca falta assunto, nem dinheiro e amizades pra “tomar umas”. O pouco se torna fartura na partilha dos conhecidos.

Viva o lugar e as pessoas que nele habitam. Viva os sentidos que nos ajudam a suportar a vida. Lutemos para que haja sempre lugares e pessoas dispostas a nos ajudar e a serem ajudadas com a nossa presença afetiva e efetiva. Como diz o trecho da canção cantada por Gilberto Gil “o melhor lugar do mundo é aqui e agora!!”

*Enildo Luiz Gouveia – Professor, teólogo, poeta e compositor. É integrante da  Academia Cabense de Letras – ACL

Imagem destaque: Web

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