Estava escrito
José Ambrósio dos Santos*
Em 12.06.2025
Alfredo caminhava pela praia de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes (PE), em seu primeiro dia de férias. Início da segunda semana de junho e o céu estava nublado. A linha do horizonte além das embarcações de pesca era de um cinza escuro, prenúncio de chuva ou mesmo tempestade. O jovem publicitário fazia balanço das perdas, dos danos, ganhos, sonhos e planos, como de costume, lembrando com pesar de que se completava naquele dia um ano do falecimento da sua esposa.
Depois de cumprimentar pescadores ele se deparou com um ‘garimpeiro’, um jovem com um detector de metais que revolvia a areia à procura de objetos que banhistas costumam perder nas praias como brincos, moedas, anéis….
– Como está a garimpagem?
– Encontrei uma aliança de ouro, respondeu o ‘garimpeiro’, para lhe mostrar em seguida o achado.
Alfredo pegou a aliança e o seu semblante mudou completamente.
– Você está bem? O que houve?
Alfredo respondeu que estava tudo bem e perguntou se ele lhe venderia a aliança.
– Sim, respondeu já informando o valor.
Alfredo comprou a aliança sem pechinchar e seguiu a caminhada.
Ele não tirava os olhos da aliança, que tinha a inscrição: Alfredo e Amanda. Coincidentemente, Amanda era o nome da sua esposa. E o seu marido ou namorado era seu xará. Devia ser um casal jovem, na mesma faixa etária, pouco mais de 40 anos a julgar pela data: 12.06.2015, imaginava.
Editor de um blog, Alfredo logo anunciou que encontrara uma aliança e estava à procura da pessoa que a perdera, uma mulher, considerando o seu diâmetro.
Não demorou mais do que uma hora e chegou uma mensagem em seu WhatsApp: Oi, sou Amanda e essa é a aliança que perdi caminhando em Candeias. Como faço para tê-la de volta?
Alfredo pediu que ela sugerisse.
Alfredo e Amanda combinaram de se encontrar no dia seguinte, 12 de junho, na praia de Candeias, nas imediações do edifício Parati, onde a aliança fora encontrada.
Pelas 09h, como combinado, Alfredo informou que estava se aproximando vestido com uma camisa do Santa Cruz, short branco e boné preto.
Bem próximo avistou duas mulheres que desciam para a faixa de praia em sua direção.
– Oi, sou Amanda e você é Alfredo…
– Sim, Amanda, respondeu, sem conseguir disfarçar o deslumbramento e a surpresa diante daquelas lindas mulheres.
– Esta é Maria, minha mãe.
Após os cumprimentos Alfredo lhe entregou uma pequena caixa.
Amanda abriu e logo constatou tratar-se mesmo da sua aliança.
Viu que havia um cartão e não segurou as lágrimas.
Mostrou à sua mãe, que também lacrimejou.
Que sejam felizes para sempre. Do amigo desconhecido, Alfredo. Era o que dizia a curta mensagem escrita no cartão.
– Gente, pensei que fosse trazer alegria, mas vejo lágrimas… ponderou Alfredo.
– É que o meu marido Alfredo encantou-se há um ano e fazia uma semana que eu perdera a Aliança, explicou Amanda.
Alfredo então contou que lhe tocara profundamente o fato de a aliança unir Amanda e Alfredo, informando que a sua esposa também se chamava Amanda e que no dia anterior se completara um ano do seu falecimento.
Um breve silêncio que foi quebrado por Amanda:
– Podemos caminhar um pouco ou você vai encontrar alguém?
– Não; ou melhor, sim. Podemos caminhar sim. Não vou encontrar ninguém, respondeu um atrapalhado e novamente surpreso Alfredo.
Maria informou que ficaria, sentando-se em seguida.
Cerca de uma hora depois foi a vez de Maria ser tomada de surpresa.
Amanda e Alfredo se aproximavam.
Até então sombria, Amanda estava radiante, assim como Alfredo. Sorriam e gesticulavam olhando para o horizonte, naquele momento um belo céu azul, sem nuvens, tipo ‘céu de brigadeiro’.
De mãos dadas.
*José Ambrósio dos Santos é jornalista, escritor e integrante da Academia Cabense de Letras.
Imagem destaque: Web
Belíssima história.