Dúvida ou fé?

Por

Ivan Marinho de Barros Filho*

Em 10.08.2020

Um dia acreditei na incerteza como mola propulsora do desenvolvimento humano e em meu primeiro livro, o Anti-horário, publiquei um poema intitulado Sem Francisco, que diz: Onde houver fé / que eu leve à dúvida! Levei este propósito para a sala de aula, buscando desfazer, com meus alunos, qualquer relação hierárquica. Erros e acertos, como a própria vida na sua ambivalência de cosmos e caos, Apolo e Dioniso, guerra e paz… Lia, então, Paulo Leminski, que caminhava sobre reticências em busca de um ponto final, tácito ao declarar: Podem ficar com a realidade / esse baixo astral / em que tudo entra pelo cano / Eu quero é viver de verdade / eu fico com o cinema americano. Lia também a biografia de Ernesto Guevara de la Serna, que na comemoração de seu aniversário com amigxs médicxs e enfermeirxs, a despeito de uma crise de asma, jogou-se num rio e atravessou à outra margem, onde sobreviviam, isolados, leprosos, gritando ao chegar: A partir de hoje, este é o meu lado!

Hoje, enquanto olho para frente, expressando no livro Sortilégio Possível no poema poÉtica que O homem é o único animal / na sanha, a tatear no escuro / em busca de sua natureza estranha / que está no futuro., clamo por fé… pelo ponto final.

 

*Ivan Marinho de Barros Filho é professor, especialista em Economia da Cultura. Escreve às terças-feiras.