Pesquisadora orienta como identificar e amparar mulheres vítimas de violência

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Agência UNFPA

Em 17.08.2020

Jackeline Romio é doutora em demografia e pesquisadora sobre violência contra mulheres. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Em entrevista ao Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e ao Departamento Nacional do Sesc, a doutora em demografia e pesquisadora sobre violência contra mulheres Jackeline Romi considera fundamental o engajamento das comunidades na luta pelo fim da violência contra as mulheres. A pesquisadora explicou como acontece a violência baseada em gênero e quais são os mecanismos para prevenção e denúncia. Segundo ela, neste momento de pandemia, o isolamento social pode gerar mais tensões, novos casos podem aparecer e os que já existem tornam-se mais frequentes. Leia a entrevista na íntegra.

Com o objetivo de informar as mulheres sobre como acontece a violência baseada em gênero e os mecanismos para prevenção e denúncia, a doutora em demografia Jackeline Romio conversou com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e com o Departamento Nacional do Sesc.

A pesquisadora considera ser fundamental o engajamento das comunidades na luta pelo fim da violência praticada contra as mulheres. Segundo ela, neste momento de pandemia, o isolamento social pode gerar mais tensões, novos casos podem aparecer e os que já existem tornam-se mais frequentes.

A entrevista, que faz parte da campanha promovida pelo UNFPA e Sesc, tem como objetivo apoiar as mulheres, reforçar a importância de falar sobre a violência doméstica e sobre o direito das mulheres a uma vida com segurança, liberdade e paz. Além de informar como elas podem se prevenir.

Confira abaixo a entrevista completa com a pesquisadora.

UNFPA e Sesc: Como uma mulher pode identificar se está sofrendo violência? Existem alguns sinais? Onde ela pode ter ajuda para fazer essa identificação?

Há vários sintomas da violência no cotidiano de vida das mulheres, o isolamento é um deles. Uma das ferramentas do agressor é isolar a mulher, com isso se enfraquece a rede de possíveis apoios à mulher. A ausência de comunicação deve ser um alerta as pessoas que vivem em torno da mulher que vive a violência. Mesmo as meninas também tendem a ficarem mais caladas e distantes no auge das agressões e esse deve ser um padrão a ser observado por professoras, amigas e vizinhas, para conseguir intervir na violência de gênero que vê no silêncio e isolamento social seus maiores aliados.

UNFPA e Sesc: Quando se fala em prevenir a violência de gênero, sempre pensamos em macroações. Mas o que cada um e cada uma pode fazer, em suas comunidades, para prevenir essas violências?

A violência de gênero, por ser naturalizada na sociedade, é de difícil prevenção, devido às normas sociais que minimizam o sofrimento cotidiano de meninas, adolescentes e mulheres, como o poder masculino dentro das relações domésticas e familiares, por exemplo. A divulgação de informações de qualidade destinada a desmascarar esta naturalidade é uma atitude que as cidadãs e os cidadãos podem fazer para mudar esta realidade desde a comunidade.

UNFPA e Sesc: Um exemplo disso é aquela velha história de “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”, não é mesmo? Como evitar esse comportamento?

Sim, outra atitude que ajuda a prevenir a violência de gênero é a solidariedade com as vítimas das agressões sexistas. A comunidade é cúmplice da violência de gênero quando assiste, sem reação, às amigas, vizinhas e familiares sofrendo da violência conjugal, doméstica, familiar e sexual, ali ao seu lado, sem assumir o papel ativo de barrar a violação, especialmente utilizando o Disque 180, que pode ser acionado de forma anônima para qualquer denúncia de atos de violência. Também para o caso de arbitrariedade policial e tortura pode-se ligar para o Disque 100, que recebe denúncias da violação dos direitos humanos.

UNFPA e Sesc: Então, quando a pessoa sabe de uma situação de violência com uma amiga ou uma vizinha, por exemplo, como ela deve proceder?

É fundamental identificar situações de violência de gênero encarando-as com seriedade e compromisso. Ao perceber que uma amiga, vizinha ou aluna esteja em uma situação de violência, seja física, sexual ou psicológica, deve-se tomar partido por meio de ajuda. A covardia do machista pode ser barrada com a presença ativa da comunidade naquele contexto, o que é raro, pois a maioria prefere “não se meter”, até mesmo por medo da segurança pessoal.

De qualquer forma, as denúncias anônimas e o apoio, seja na escuta, seja na presença e ligações para apoiar as vítimas que perpassam seu ciclo próximo de convívio, são fundamentais. Não feche a cortina, não vire as costas, não pense que é normal uma menina, adolescente, mulher estar isolada e sozinha num convívio violento. Essa ação solidária pode salvar vidas, ligue 180, visite uma familiar em contexto de violência, tome partido pela vida das mulheres!

UNFPA e Sesc: E para quem não flagrou nenhum comportamento violento, mas deseja se engajar nesta luta, como fazer?

Uma boa atitude é não compartilhar material que reforce os estereótipos, que autorizem a violência contra as meninas, adolescentes e mulheres. Não consuma pornografia infantil, não compartilhe meme sexistas e racistas em suas redes sociais. Divulgue informação sobre formas de identificar e prevenir a violência de gênero.