O mundo não está chato

Por

Jairo Lima*

Em 30.08.2020

O mundo não constrói ninguém; nós construímos o mundo.

Que conversa é esta de que o mundo está chato? Tudo o que temos por aqui é simplesmente digno da nossa eterna gratidão. Viver é uma experiência maravilhosa, uma dádiva Divina, uma graça.

Vamos parar com isto! O discurso de que o mundo anda chato na verdade esconde um grande medo que temos de olharmos a vida com os olhos da alma. Em detrimento do sadio exercício das novas experiências, do pensar fora do quadrante imposto pela cultura do conforto mental, estamos nos acovardando no mais do mesmo, na cópia, na repetição. Tudo passou a ser reprise, cola. Nada se cria, tudo só se copia.

Como podemos colher melhores dias se estamos plantando noites sem luas e auroras sem sóis? Esse breu que encobre a esperança de muitos pode ser chamado também de preguiça, a preguiça que tem pavor às descobertas, às novas e educativas experiências. Daí, não é o mundo que está chato, mas sim o que estamos fazendo contra nós mesmos que acaba dando essa falsa sensação. Preferimos nos impor limitações em vez de criar, de sermos imaginativos e curiosos.

Tudo poderia ser diferente se os templos religiosos fossem, por exemplo, à procura da fórmula que mantivesse os jovens dentro deles. Como muita coisa mudaria se nos partidos políticos houvesse cursos sobre alteridade; se as artes se reinventassem para não se sentirem ameaçadas pela Inteligência Artificial; se as escolas fossem mais sedutoras do que os aplicativos de diversão; se trocássemos melindres por tolerância e o pânico do novo pela coragem da ousadia…Não, o mundo não está chato, vamos parar com isto, tá ficando feio, já estamos beirando a retórica da ingratidão com Deus.

O mundo nos oferece um leque de oportunidades de coisas tangíveis legais, motivantes, saudáveis, confortáveis e outras maravilhosas que ainda estão escondidas nos escombros do nosso conformismo humano. Saíamos das grutas das limitações em busca da luz que está dentro de cada um de nós; sejamos mais confiantes, ousados, sem o medo do erro, pois não se aprende a andar sem antes levar alguns tombos. Faz parte, ora.

Somos seres em construção que sequer ainda sabem os seus limites. Exploremos cada fibra dos nossos cérebros e tentemos ser mais mentes. Paremos de agir como agem os cavalos que usam cabriolé, que apenas puxam um corpo castrado de todos os seus sentidos.

Se o mundo de fato fosse chato, até hoje estaríamos dentro das cavernas.

*Jairo Lima é gestor público e artista. É membro da Academia Cabense de Letras.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.