As peripécias de katucha
Valéria Saraiva*
Em 24.08.2020.
Definitivamente, tenho que comprar uma caneta nova. A caneta que mais uso e que estou escrevendo neste momento, está com a tampa toda mastigada. Eu não tenho esse habito de mastigar tampas de caneta. Mas minha cachorrinha, katucha, fez esse ‘favor’ pra mim.
Ela é muito peralta, não posso dar mole com ela. Esqueci um documento em cima da mesa e lá estava ela com ele na boca, toda feliz. E eu… desesperada. Por sorte, não se estragou muita coisa.
Acredito que toda essa ansiedade dela é por não estar passeando na rua comigo. Infelizmente, além do medo da pandemia, tenho enfrentado problemas de saúde que deixaram minha imunidade baixa. Mas logo vou poder voltar às minhas atividades normais. E vou poder sair com katucha para que ela gaste toda essa energia acumulada.
Dizem que “o cachorro é o melhor amigo do homem”. Isso se aplica também à mulher. É um amor incondicional.
Sempre que tenho que sair, quando volto para casa ela me recebe com muita alegria. E às vezes, quando estou triste, ela vem com seu carinho e me faz esquecer um pouco dos problemas.
Estou pensando em comprar um sofá novo, porque o atual está todo destruído por obra de katucha. Tenho receio, mas acho que vai dar certo. Ela já está muito grandinha para ficar destruindo as coisas. Esse mês ela completou um ano e dois meses.
Quando era menor, ela não conseguia ver um chinelo que saia carregando pra ficar mordendo, escondida. Eu tinha que esconder todos os calçados da vista dela. Achei que ela tivesse superado essa fase, mas, ontem, acredito que porque ficou chateada comigo, pegou uma sapatilha minha e estraçalhou.
Geralmente ela é bem obediente, mas nesse dia, em especial, ela tinha aprontado. E quando ela apronta eu a coloco de castigo no corredor por uns dez minutos, ‘para pensar no que fez’. O corredor estava cheio de sapatos. E esses dez minutos foram suficientes pra ela fazer aquele estrago. Fiquei chateada pela sapatilha, mas, por outro lado, eu a entendo.
Ela estava se sentindo injustiçada e achou um jeito de chamar a minha atenção.
“A liberdade é um cachorro vira-lata”, como definia o desenhista, humorista, dramaturgo, escritor, poeta, tradutor e jornalista carioca Millôr Fernandes (1923/2012).
A minha katucha é uma cachorrinha sem raça definida, ou seja, vira-lata. Foi uma adoção feita com muito amor. Me apaixonei por ela desde que vi sua foto no whatsapp, pedindo um lar.
Como disse a escritora Clarice Lispector: “É, eu me acostumo, mas não amanso, por Deus! Eu me dou melhor com bichos do que com gente […] e quando acaricio a cabeça do meu cão sei que ele não exige que eu faça sentido ou me explique.”
Fico por aqui com essa reflexão e com katucha cochilando aos meus pés.
Até a próxima.
*Valéria Saraiva é enfermeira, poetisa, cronista, autora do livro “Lírios, tulipas e escorpiões” e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às segundas-feiras.
Foto destaque: Cadela katucha/Valéria Saraiva
Ah! Amiga, quanta sensibilidade, katucha é uma peraltinha carinhosa precisando de adestramento. Aqui em casa temos o Stark, outro peralta em adestramento.