Poluição do ar atinge 9 em cada 10 pessoas no mundo e mata 7 milhões ao ano

Por

José Ambrósio*

Em 09.09.2020

Além do uso da máscara – considerado incômodo por muita gente, mas necessário – em razão da pandemia do novo coronavírus, a cada dia está ficando mais difícil se respirar livremente no mundo. As chamas que queimam incessantemente o Pantanal e a Amazônia causando destruição, mortes de animais e aumentando a poluição do ar, reforçam a preocupação da Organização das Unidas (ONU), que no último domingo (07) registrou o 1º Dia Internacional do Ar Limpo para um Céu Azul, criado no final do ano passado com o objetivo de aumentar a conscientização de que o ar limpo é importante para a saúde, a produtividade, a economia e o meio ambiente.

A poluição do ar provoca sete milhões de mortes prematuras todos os anos, principalmente nos países de baixo e médio rendimentos, e atinge nove em cada dez pessoas no mundo, como alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres. A poluição do ar contribui para doenças cardíacas, derrames, câncer de pulmão e outras doenças respiratórias. A poluição também ameaça a economia, a segurança alimentar e o meio ambiente.

O alcance do desafio do Dia Internacional do Ar Limpo para um Céu Azul requer ação determinada por parte de governos, empresas e comunidades para acabar com a dependência de combustíveis fósseis em favor de energias renováveis, limpas e acessíveis, como destacou Guterres. O dirigente da ONU acrescentou ser urgente a necessidade de se promover ações para melhorar a qualidade do ar e garantir o ar puro para todos, visto que episódios de poluição do ar continuam a crescer em todo o planeta.

Para se ter uma ideia, ocorrências extremas de poluição do ar tornaram-se um fenômeno sazonal em algumas regiões. Exemplo disso se verifica na Índia. No início de novembro Nova Déli e outras cidades no norte da Índia experimentam níveis de poluição do ar que resultaram no cancelamento de voos e obrigaram as pessoas a ficarem em casa. Em Ulaanbaatar, na Mongólia, e em Bangkok, na Tailândia, esses eventos ocorrem em janeiro e fevereiro. Na Califórnia e na Austrália, a mudança climática alimentou incêndios florestais de verão, o que causou a destruição de habitats e cobriu vastas áreas em uma névoa sufocante.

Diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Inger Andersen foi taxativa ao afirmar que a poluição do ar é o maior risco ambiental para a saúde humana, por ter, como alertou, impacto desproporcional nos mais pobres e nos custos ambientais devido aos gastos com saúde, perda de produtividade, redução da produtividade agrícola ou redução da competitividade das cidades.

Entretanto, mesmo em meio a tanta fumaça, Inger Andersen consegue vislumbrar possibilidades para céus mais limpos no mundo. Para ela, os lockdowns provocados pela COVID-19 mostraram que as pessoas estão dispostas a ouvir a ciência e que é possível agir rapidamente para proteger a saúde humana. Isso, segundo destacou reforçando o alerta de Guterres, implica na adoção de medidas urgentes para erradicar a poluição.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), organismo ligado à ONU, também se mostrou esperançoso. “Diante dos desafios globais impostos pela poluição do ar, mudanças climáticas, desigualdades sociais e econômicas e a pandemia de COVID-19 em curso, temos a chance de reconstruir melhor”, disse, no evento do domingo (07).

Guterres, sentindo o solo quente sob seus pés, enfatizou a recomendação de que os países têm de acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis. A nível internacional, disse que os países têm de cooperar para se ajudarem na transição para as energias limpas.

No Brasil, cuja política ambiental é denunciada internacionalmente e apesar das pressões de investidores nacionais e internacionais por ações para a preservação da Amazônia, a região e o Pantanal ardem há meses. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelam que somente no Pantanal foram detectados 9.746 focos de calor entre 1º de janeiro e 30 de agosto deste ano. As chamas da destruição já queimam áreas do Parque Estadual Encontro das Águas, localizado na região de Porto Jofre, na cidade de Poconé (distante 102 km de Cuiabá). Região turística, a localidade é conhecida por deter a maior concentração de onças-pintadas do mundo, como divulga o governo de Mato Grosso. O número de focos de incêndio registrado no Pantanal entre janeiro e agosto deste ano equivale a tudo o que queimou no bioma nos seis anos anteriores, de 2014 a 2019.

O desmatamento é a principal fonte de emissão de gases do efeito estufa do Brasil, segundo o Greenpeace, e a destruição florestal só faz crescer. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, foram detectados alertas de desmatamento em 9.205 km² da Amazônia, o equivalente a 1,1 milhão de campos de futebol, segundo o Deter. Isso representa um aumento de 34%, em relação ao ano passado, que já teve desmatamento recorde.

Além de fundamental por sua biodiversidade, a floresta é considerada uma peça chave na distribuição de umidade pelo continente – as árvores da Amazônia lançam mais de 200 mil metros cúbicos de água por segundo para a atmosfera – e também na luta contra a crise climática.

Ainda de acordo com o Greenpeace, pesquisas apontam que se o desmatamento continuar a subir e atingir entre 20-25%, partes da Amazônia podem nunca mais se recuperar e podemos perder para sempre os serviços ecossistêmicos que ela nos fornece. Hoje já desmatamos 17% do bioma e 20% da Amazônia brasileira.

Se você teve fôlego para chegar até aqui é porque também se preocupa com a questão ambiental no Brasil e no mundo. E isso é um bom sinal, pois o planeta precisa urgentemente que nos demos as mãos. Na semana passada, o mundo se mobilizou no Dia de Ação Global pela Amazônia, no sábado (5). Durante todo o dia, que foi escolhido por ser o Dia Internacional da Amazônia, voluntários e ativistas do Greenpeace realizaram ações em pontos conhecidos de seus países e muitas vozes se uniram também online para exigir que governos e empresas se comprometam com a proteção da maior floresta tropical do mundo.

A luta por um mundo saudável, pacífico, digno e justo para a humanidade é de toda(o)s.

*José Ambrósio é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras.

Foto destaque: ONU News/Anshu Sharma – Poluíção do ar em Nova Deli