Candidatos escondem partidos

Por

Carlos Sinésio*

Em 20.10.2020

Há alguns dias, postei numa rede social um pequeno texto comentando que muitos candidatos a vereador estavam omitindo o nome do seu partido na propaganda eleitoral. Uma forma de esconder a legenda que não agradaria a parte do seu imaginado e possível eleitorado.

Por coincidência, a revista Época desse fim de semana traz uma matéria abordando o assunto. Ela cita vários exemplos de pessoas famosas Brasil a fora, as quais escondem seus partidos exatamente para não afastar possíveis eleitores, sejam de legendas com perfil mais à direita ou à esquerda. Na verdade, esses candidatos buscam qualquer eleitor. Eles não estão nem aí, pelo menos no momento eleitoral, para uma identificação ideológico-partidária.

Um dos exemplos citados pela revista é o do transexual e ator Thammy Miranda (foto destaque), aquele filho famoso de Gretchen, a Rainha do Bumbum dos anos 1980, e que tenta, pela segunda vez, se eleger vereador em São Paulo. Ele está filiado ao PL, do famoso ex-deputado Valdemar Costa Neto, envolvido em escândalos de corrupção e por isso condenado pela Justiça (inclusive, pelo STF), como o País inteiro já sabe. Thammy não só esconde o partido, como não deve achar importante a identificação entre candidatos e legendas.

Gretchen

Outro exemplo destacado pela matéria é o ex-PM carioca e youtuber Gabriel Monteiro. Ele é candidato a vereador no Rio de Janeiro pelo PSD do ex-ministro Gilberto Kassab, investigado por suspeita de ter recebido propina na Lava Jato. Monteiro também prefere ignorar o partido ao qual pertence.

Os exemplos são muitos pelo país. Na sua cidade pode haver vários. É triste ver candidatos se filiarem apenas por interesses pessoais, não acharem importante a filiação partidária. Certamente, se pudessem, disputariam o pleito de forma avulsa, sem ligação com qualquer legenda.

Isso já levou políticos a defenderem as chamadas candidaturas avulsas, que são aquelas em que o candidato não pertence a nenhum partido Essa alternativa pode até ter algum benefício para o político, mas traz desvantagens também, como a perda e o direito de obter recursos do chamado fundo partidário que consome bilhões de reais dos cofres do País.

Estar vinculado a um partido, por complicado que isso seja, é fundamental não apenas para o candidato, mas também para o eleitor, que pode identificar melhor em quem votar e conhecer a linha política das pessoas. Sem filiação, fica mais difícil de saber se o político é vinculado ou ligado ao prefeito, ao governador, ao presidente da República. E tudo isso é importante para o regime democrático se consolidar.

O Brasil tem 33 partidos de todas as linhas ideológicas. Há opções para todos os gostos. E maus gostos. Será que não há uma legenda que sirva a determinado postulante a cargo eletivo?

No momento em que um candidato esconde o próprio partido que lhe dá guarida para concorrer a um mandato, ele já sinaliza mal para o eleitorado. Pode ser uma pessoa que não merece confiança. É como alguém negar suas origens, omitir, por exemplo, que mora em uma casa humilde, em um bairro muito pobre por vergonha ou para não parecer quem realmente é.

Pense muito bem se vale a pena mesmo confiar o seu valioso voto a alguém que nega ou esconde a sua própria identidade partidária, tudo apenas por meros interesses eleitoreiros pessoais. Votar bem é a melhor oportunidade que se tem para mudarmos e melhorarmos o Brasil.

*Carlos Sinésio é jornalista com 35 anos de profissão. Trabalhou nos jornais O Globo, Jornal do Commercio e Diário de Pernambuco. Foi assessor de comunicação em diversas instituições públicas e privadas e repórter freelance no jornal O Estado de S. Paulo e na IstoÉ. Atua na TV Alepe. Escreve às terças-feiras.

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