Pandemia deve agravar situação de saúde, pobreza e capacidade de recuperação da população negra no Brasil
Redação
Em reunião online com pesquisadores, representantes da sociedade civil e gestores públicos para discutir os impactos da pandemia de COVID-19 sobre a população negra no Brasil, na semana passada, a representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) para o Brasil, Astrid Bant, disse que a pandemia, unida ao racismo e à dificuldade da população negra de exercer seus direitos, tem resultado no agravamento de doenças, na maior letalidade frente à COVID-19 e em mais desemprego e pobreza.
Os pesquisadores presentes citaram também os obstáculos que as iniquidades, o racismo e a discriminação impõem à população negra brasileira, a tornando mais vulnerável nesse contexto de pandemia.
O subsecretário de Políticas de Direitos Humanos e de Igualdade Racial da Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania do Distrito Federal, Juvenal Araújo Júnior, traçou um panorama da história das políticas de igualdade racial brasileiras.
“Graças a ícones e movimentos negros brasileiros, a política de promoção da igualdade racial no Brasil foi implementada. Mas existem desafios que ainda não foram possíveis vencer. Não há outra forma de conseguirmos equidade e igualdade racial no Brasil sem ser por meio de políticas públicas. Estas devem ser efetivas e permanentes.”
O subsecretário também citou a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. “Temos esse programa porque a população negra é mais suscetível a determinadas doenças, a mais famosa é a anemia falciforme, assim como o negro também é mais propenso a ter diabetes Mellitus, glaucoma e hipertensão arterial.”
“Nesse momento de pandemia, a população negra não está incluída no grupo de risco, mas hoje estamos com o maior número de morbidade de pessoas negras”.
Para ampliar o debate sobre a taxa de letalidade do novo coronavírus, o professor adjunto do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Alexandre da Silva, lembrou que existem vários grupos sociais, como pessoas idosas, negras e pobres, que estão expostos aos mais diversos tipos de vulnerabilidade.
“Mas é perceptível que a COVID-19 possui um acometimento desigual, pois em qualquer faixa etária, se observa que o óbito é maior para pessoas pretas e pardas no Brasil.”
A coordenadora da ONG Criola, Lúcia Xavier, alertou para os desafios que a população negra enfrenta no cenário atual. “Como não há uma data para a pandemia acabar, certamente vamos passar algum tempo tentando buscar novas formas de prevenção e controle.”
Ela ressaltou que a pandemia acirrou e vai continuar acirrando a crise sanitária, econômica, política e social. “As questões sociais relacionadas à população negra não serão as mesmas depois da pandemia, porque os sistemas econômicos, políticos e sociais também se transformaram nesse período e, consequentemente, a lógica capitalista e excludente também muda.”
Do ponto de vista internacional, a coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres (com base em Moçambique desde 2014), Graça Samo, afirmou que a pandemia se dá em um contexto capitalista, colonialista e racista.
“A forma como a resposta é dada, é similar à do colonialismo, pois temos que nos submeter a medidas de prevenção e proteção que caíram de cima para baixo, não tivemos tempo para analisar até que ponto essas medidas são as que melhor se adequam à nossa realidade e até que ponto vão contribuir para que vidas sejam salvas”, disse.
Fonte: Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA)
Essa terrível realidade já pode ser vista nas comunidades, a maior parcela das pessoas que morrem ou desenvolvem formas mais graves da covid são os moradores dessas áreas. Já causa um grande impacto que vai ser sentido num futuro próximo.