Ela tem os olhos do céu

Por

Jénerson Alves*

Em 29.01.2021

A Biologia é incapaz de conceituar os olhos dela. Não são simplesmente os órgãos que possibilitam a visão. Mais do que captar imagens e projetá-las na retina, esses olhos captam meu coração.

Diante de tais olhos, minha visão não vislumbra qualquer outro ente. Todas as sombras se dissipam, a relatividade do tempo se amplia, eu sinto um toque da eternidade em minh’alma.

Olhos que parecem percorrer todas as eras, contemplar todos os mundos, perscrutar todos os espaços. Os antigos seriam incapazes de compreendê-los, o futuro será incapaz de revê-los. São dádivas do presente. De quem sente.

Nem mesmo os universos fictícios possuem elementos similares aos olhos dela. Já percorri todos os recônditos da Terra Média, já palmilhei cada centímetro de Nárnia, já viajei multiversos dentro da Tardis. Não há, em local nenhum, nada mais lindo do que esses lampejos incomparáveis.

Aliás, não é qualquer céu que pode ser comparado aos olhos dela! Ultrajante seria ousar compará-los com os plúmbeos páramos europeus, esfumaçados por causa da Revolução Industrial! Todavia, nem mesmo a beleza do céu da praia de Botafogo, pintada por Benno Treidler, é comparável à pulcritude dessas ‘lamparinas’ que fulgem na face mais terna. Não são os céus dos delírios astrológicos, nem das angústias lovecraftianas.

Seus olhos possuem a essência do Empíreo vislumbrado por profetas; inefável paraíso eterno decantado por São Paulo, almejado por Ellen White, deslumbrado por Isaac Watts… sacra morada de onde o Logos procedeu, et Verbum caro factum.

Sim, ela tem os olhos do céu. Mas, como pode neles haver tristeza?

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Foto destaque: Guilherme Henrique Guinomao/Pixabay