Impeachment ou não?
Carlos Sinésio*
Em 02.02.2021
Um dos temas políticos mais discutidos no momento é a possibilidade do presidente Bolsonaro enfrentar um processo de impeachment e ser defenestrado do Palácio do Planalto. Motivos para ser impedido de continuar governando ele tem dado de sobra, pois continua infringindo a Constituição de várias formas, segundo políticos e juristas que entendem da matéria. É acusado de crimes de responsabilidade, genocídio, negligência e omissão durante a pandemia da Covid-19 e de cometer diversos outros.
Mas essa é uma questão onde pesa muito mais a política do que simplesmente a legalidade jurídica ou o descumprimento da Constituição. Onde são mais relevantes os interesses políticos de grupos oposicionistas do que qualquer outra coisa. A política por aqui costuma funcionar assim desde sempre e isso está longe de mudar.
O fato é que hoje já existem na Câmara dos Deputados nada menos do que 62 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, os quais têm as mais diferentes origens. Foram apresentados por políticos individualmente, por partidos e grupos, por juristas e por cidadãos brasileiros que julgam Bolsonaro um infrator da lei. Cada um tem suas razões e elas podem estar certas, embasadas. Se não todas, pelo menos uma boa parte.
Somente este ano foram apresentados três pedidos de impeachment. Assim, Bolsonaro se aproxima do total de 68 petições contra a ex-presidente Dilma Rousseff ao longo de seus dois mandatos. Ele, com pouco mais de dois anos no cargo, já supera os ex-presidentes Michel Temer (31), Lula da Silva (37), Fernando Henrique (24), Itamar Franco (4) e Fernando Collor (29).
Enquanto chovem esses pedidos, também aumentam nas ruas do Brasil e mesmo no exterior protestos para que o presidente deixe o cargo, seja por impedimento legal ou quem sabe por uma quase impossível renúncia. O certo é que as pressões aumentam e isso não é nada bom para o governo que já anda ruim das pernas sem conseguir recuperar a economia, sem gerar empregos e sem melhorar efetivamente a vida das pessoas, além de estar com a popularidade em declínio.
Processo de impeachment é demorado, doloroso e costuma atrapalhar bastante a vida do país. Para um pedido andar, é necessário que a presidência da Câmara tire-o da gaveta e o coloque na agenda da Casa. E, ao que parece, no momento, não há a mínima disposição e vontade para isso.
Como já haverá eleição presidencial no próximo ano, o mais provável é que o presidente prossiga despachando no Palácio do Planalto até o final de 2022 e sendo aplaudido por seus seguidores. Quem quiser vê-lo fora do poder central, pelo que tudo indica, terá mesmo que aguardar para tentar eleger outro presidente no ano que vem.
*Carlos Sinésio é jornalista com 35 anos de profissão. Trabalhou nos jornais O Globo, Jornal do Commercio e Diario de Pernambuco. Foi assessor de comunicação em diversas instituições públicas e privadas e repórter freelance no jornal O Estado de S. Paulo e na IstoÉ. Atua na TV Alepe. Escreve às terças-feiras.
Foto destaque: oglobo.globo.com