O vírus quer ir embora, mas…

Por

Jairo Lima*

Em 17.03.2021

O acaso não existe; tudo acontece por alguma razão; todas as experiências da vida humana ocorrem porque precisam ocorrer… Todas as dores, todos os sofrimentos, todas as angústias, tragédias, mortes, alegrias e tristezas… Tudo que experimentamos tem uma razão superior e não cabe qualquer interpretação de injustiça. Deus é amor, mas nós ainda pouco disso entendemos. Há uma harmonia universal cuidando sempre de arrumar as coisas quando aqui nós colocamos algo fora do eixo.

A Covid-19 é mais um vírus causado pela imprudência humana. Dentre elas, vimos os absurdos que se investe na indústria bélica em detrimento das pesquisas na área da saúde, quer nas enfermidades dilacerantes em número restrito, quer nas grandes doenças com potencial em grande escala.

Sobre o novo coronavírus ainda levaremos um bom tempo para entendermos a mensagem que ele vem trazendo por trás de tantas dores. Nosso HD ainda processa tudo lentamente. A Covid-19 completou um ano de vida entre nós. É fato que a história registra convivências longas com as pandemias, desde a Peste de Antonina, no ano 165 D.C., passando pela Praga de Justiniano, Peste Negra, Cólera, Gripe Russa, Gripe Espanhola, AIDS… O fato inconteste é que as condições sanitárias, econômicas e intelectuais são outras nos dias atuais, haja vista que a vacina pra a Covid-19 fora desenvolvida em tempo recorde.

Mas, por que então o vírus deve estar querendo ir embora? Bom, em primeiro lugar, tudo na vida passa, nada é pra sempre e chegará o momento dele ir embora, mas acontece que esse momento depende só de nós. O nosso maior problema é compreendermos a sua mensagem e eis aí o nosso maior problema: evoluímos intelectualmente ao ponto de provermos a humanidade com um antídoto em menos de 365 dias, mas ainda estamos, e parece que gostamos de ficar, na infância da evolução moral.

Peguemos apenas o Brasil como exemplo. É fato que a política está contida em tudo, como tudo está contido na política, entretanto, por aqui tudo parece ficar contido na politicagem, tão somente.

Diferentemente de outros países, onde neste momento prevalece o sentimento de nação, civilidade, humanismo, aqui, por todos os lados, há bandeiras da política rasa e ideologicamente doentia fincadas nas costas já sofridas do nosso povo. Da adolescência trago uma frase do meu amigo e ex-professor de educação física, Isac Gomes: “Para se resolver um problema, devemos dar a ele toda a atenção.” Frase corretíssima, mas, o que vemos?

Em meio a uma pandemia estamos discutindo a eleição para presidente em 2022, sem sabermos sequer se estaremos frente à urna com o título nas mãos nas próximas eleições. Tudo é muito incerto para o amanhã. Ao invés de uma campanha coletiva de conscientização, preferimos apontar a falha alheia, como se apenas uma pessoa fosse capaz de resolver um problema mundial. Na França, nos EUA e na Itália tivemos eleições e nem por isso a pandemia acabou. Obviamente que aqui não vai a apologia à isenção das responsabilidades das autoridades ora à frente das suas nações.

Apenas a vacina não vai convencer o vírus de ir embora. Somos ainda gravetos separados e, portanto, frágeis, vulneráveis …Não, o vírus não vai embora enquanto ainda prevalecer a vaidade, o egoísmo, o orgulho, a ideologia doentia, a falta de empatia…Não, o vírus não vai embora, ele não é causa, é simplesmente um efeito.

*Jairo Lima é poeta, artista plástico e membro da Academia Cabense de Letras.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.

Foto destaque: bbc.com