Uma pequena sacola de grãos
Jénerson Alves*
Em 19.03.2021
– Tenho um presente para você – disse-me a senhora, sorrindo.
Eu, que estava perdido em meus pensamentos, confesso que fiquei meio assustado com a frase. Não vi nenhum pacote nas mãos dela!
Foi, então, que ela me entregou uma pequena sacola com alguns grãos muito pequeninos. E explicou:
– São sementes de mostarda!
No mesmo instante, minha memória remeteu ao texto bíblico de S. Mateus 17:20: “E Jesus lhes disse: (…) se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível”. Então, fui tomado por um turbilhão de ideias e sentimentos. Nos tempos bíblicos, a semente de mostarda era utilizada como a menor unidade de medida de peso. Percebi que sou menor do que um grão de mostarda. Minha diminuta fé chega a ser invisível e, muitas vezes, infrutífera…
Pensei no quanto as palavras do Mestre impactaram os discípulos que O ouviram naquele momento. Aliás, ao longo da história tal mensagem causou impacto tanto em leigos como em teólogos. Orígenes explicou que a comparação da fé com o grão de mostarda se dá porque é desprezada pelos homens, que veem ambas como coisas sem importância – mas que, quando a semente encontra uma alma boa, como terra, torna-se uma árvore grande. Já São Gregório pontuou que só se conhece a virtude de um grão de mostarda se triturá-lo, do mesmo modo que a perseguição oprime e tritura ao homem santo, porém faz brilhar nele o fervor do espírito, que antes se cria débil e depreciável. Talvez não importe tanto o tamanho da fé, mas se estamos exercitando-a. Spurgeon disse: “Nossa fé pode ser pequena como um grão de mostarda; mas, se for viva e verdadeira, ela nos une ao Onipotente”.
Com os olhos naquela pequena sacola de grãos, percebi quão tolo tenho sido na jornada da vida ao me deter mirando as montanhas da existência. Apesar de enormes, elas são passageiras. As circunstâncias externas não são eternas. E uma lágrima rolou por minha face, como uma súplica ao Pai. Quero aprender a cultivar a semente que há em meu coração, a qual me mantém de pé e me fortalece perante as intempéries que se levantam, mas que podem desvanecer como poeira ao vento.
Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.