Uma aposta utópica

Por

Andréa Galvão*

Em 10.04.2021

Recordo-me bem que há um ano, quando fomos surpreendidos pelas consequências nefastas da pandemia do novo coronavírus, inúmeros questionamentos inundaram a alma, a ponto de nos inquietar. Por que um vírus invisível e tão letal estaria dizimando a população em todo o planeta? O que aprenderíamos com o isolamento social? Como ele iria impactar nossa vida no futuro? Será que nos tornaríamos seres humanos melhores, mais altruístas, menos apegados ao dinheiro, mais preocupados com o meio ambiente?

Supunha-se que naquele momento a exposição frequente ao sofrimento alheio e também nosso teria efeito didático para muita gente. Engano! Só para alguns. Mal o monstro corona deu uma trégua e os egoístas de plantão caíram na farra, aglomeraram-se à vontade em festas clandestinas. Os bares se enchiam a olhos vistos, a violência nunca cessou e a hipocrisia não tirou férias.

Há dois meses estamos sendo sacudidos por uma segunda onda da moléstia que mais parece um tsunami. E quando achamos que é assustadora a divulgação dos recordes de mortes diárias, cuja causa ainda é a Covid-19, conhecemos uma doce criancinha de 4 anos e que atendia pelo nome de Henry Borel padecer numa sessão de tortura que culminaria no seu fim tão brutal. Padrasto assassino e mãe cúmplice, segundo acusa a polícia mesmo sem ter ainda concluído o inquérito policial.

Pronto! Chegamos ao ápice da barbárie. Como assim? É difícil enxergar na figura materna outra coisa que não seja proteção… Visualizar na tela da TV a desfaçatez dos acusados (Dr. Jairinho e Monique), dá asco, pavor e arrepios! É por essas e outras que vejo que a transformação, a transcendência da humanidade é uma aposta utópica.

Quem sempre foi bom, sairá dessa melhor ainda e quem tem uma pitada de maldade dentro de si, com ou sem pandemia vai deixá-la crescer a ponto de transbordar. Só há algo que não mudou e não mudará: para todas as nossas ações há reações similares. Aprenda quem quiser!

*Andréa Galvão é professora de Língua Portuguesa e Arte no Colégio Santa Dorotéia, revisora ortográfica e redatora. É membro da Sociedade dos Poetas e Escritores de Pesqueira e da Academia Pesqueirense de Letras e Artes.

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