Nada se resolve sem combinar com o povo
Jairo Lima*
Em 21.04.2021
Existe uma história que já foi usada para ilustrar diversos textos, a qual conta que na Copa de 1958 o então técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Vicente Feola, chamou todos os seus atletas para montar a estratégia para a partida contra a União Soviética. Em uma das jogadas, Zito e Didi trocariam passes no meio do campo. Vavá atrairia a marcação da defesa russa indo para o lado esquerdo do campo. Em seguida, Nílton Santos lançaria para a direita, na direção de Garrincha, para que Mané, no seu melhor estilo, driblasse o zagueiro e entregasse a bola para Mazzola, que faria o gol.
Ao final, Garrincha, muito atento, meneou a cabeça e perguntou: – Tá legal, Seu Feola… mas, o senhor já combinou tudo isso com os russos?
Pois bem, apesar de a história acima ser sexagenária, ela cabe muito bem no contexto do momento. Os fatos políticos têm ocupado a pauta principal dos brasileiros, mesmo a pandemia carregando para os túmulos vários eleitores e políticos. Só mesmo no Brasil política e coronavírus exercem a mesma força para os cuidados máximos ante uma ameaça tão alarmante.
Mas, o que me chama a atenção são os prognósticos de tanta gente, da mídia, de cientistas políticos qualificados já afirmando com muita convicção cenários, resultados e até configurações na geopolítica brasileira, onde o sentimento popular parece passar longe dessas cabeças pensantes. Alguns ainda citam institutos de pesquisas para suas justificativas, sempre inseguras, claro, mesmo que estes tenham históricos de previsões falhas, estranhas e até muito questionáveis. Acho que se Nostradamus estivesse por aqui ainda se esconderia de vergonha.
No Brasil há 148 milhões de eleitores, contingente que de fato, dentro de um processo eleitoral limpo, honesto e transparente, é que detém a outorga de deliberar sobre as escolhas definitivas dos períodos administrativos, conforme está na Constituição, para destino de uma cidade, estado ou pais.
A história tá repleta de casos e lições, me parece ainda não aprendidas, de previsões de pleitos que deram erradas. Ainda no ano passado, nas eleições para as prefeituras e câmaras de vereadores, vimos isso como foi. Não combinar com o povo qual jogo será jogado é feito “pelada” de várzea; aqui e ali um sai com a perna quebrada, o nariz troncho, a roupa rasgada, o gol anulado…isso quando a torcida não invade o campo.
O povo cansou dos juízes que querem definir placar, da aplicação do dinheiro que antes de começar o jogo já resolve a parada, das manipulações dos cartolas. Agora as torcidas entram em campo sem as emoções que cegam e/ou aniquilam quaisquer reflexões.
*Jairo Lima é escritor, poeta, artista plástico e pós-graduado em gestão pública.
Este texto não reflete necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.