“Amar é arte!” Até logo, Paulo!

Por

Rômulo Rossy Leal Carvalho*

Em 06.05.2021

Às 21h12 do dia 04/05/2021, um dos maiores artistas – na esfera do humor, sobretudo – desse país se despediu dessa dimensão – ceifado, como mais de 400 mil pessoas, por um vírus letal, o qual a gestão deste país, na pessoa do Executivo Federal, ignora, debocha e tripudia, bem como sua trupe.

Paulo Gustavo Amaral Monteiro de Barros foi daqueles seres humanos cuja magnificência não é susceptível de descrição, narração ou dissertação. Como humano, não fora perfeito – nenhum de nós é -, e, ao mesmo tempo, era um dileto devoto de Santa Dulce dos Pobres, para quem, em memória dela, dedicava esforços e apoio à OSID (Obras Sociais Irmã Dulce).

Como artista, era ímpar, completo como roteirista, ator, humorista, diretor, cantor e até apresentador. Paulo era alguém fora do comum, descomunal. Poucos, em 42 anos realizam vitalmente e intensamente o que ele viveu. Paulo foi ele, e ele sempre foi o que desejou ser, o que ansiou viver, o que sentiu. O palco teatral ficava pequeno diante da magnitude do seu pendor artístico, que o Brasil teve a alegria indelével de contemplar.

Além disso, Paulo era emoção, era um paradigma de um ser solidário. Não abraçou apenas a arte; abraçou causas sociais e tinha plena consciência de seu papel histórico nesse processo. Paulo viajou o mundo e fez questão de mostrar a seus fãs as muitas viagens que realizou. Paulo foi, para além do artista inenarrável, um filho exemplar, assim como um marido e genitor idem. Certamente, a Romeu e Gael sua presença jamais será substituída. Se estivesse aqui não gostaria, certamente, que eu usasse esse vocabulário um pouco rebuscado, polido, mas antes um “eu, hein! “m🤬”, um “filho da 🤬” e “p🤬 q🤬”, como se no Brasil o maior xingamento não fosse o que gestores e falsos moralistas fazem com maestria.

A obra autoral que assinou, “Minha Mãe é uma Peça”, o eternizou. Dona Hermínia, inspirada na mãe, Déa Lúcia Amaral, nos deixará lembranças inefáveis e ficará como uma das mães mais marcantes do cinema brasileiro. Este último, o três, teve como receita mais de  R$ 175 milhões. Mas, isso são números. A qualidade do trabalho ao lado de nomes de peso como Herson Capri, Malu Valle, Rodrigo Pandolfo, Mariana Xavier, Alexandra Richter, entre outros, lhe enfatizaram face ao contracenar profissional, competente e irretocável do seu ofício. Seu apanágio central era a entrega no que fazia, a doação incansável no trabalho, mas, além disso, um viver incomensurável. E isso não tem preço. Tem valor.

Além de uma homenagem, o artista, em seus filmes, sobretudo em “Minha Mãe é uma Peça” 1, 2 e 3, teceu, sutilmente, elogios à sua mãe, que participou rapidamente do primeiro longa-metragem; no segundo, ao marido, na marcante cena no avião, já no fim do filme, com a  fala: “Adoraria ver meu filho com um rapaz assim, mas ele agora cismou que é hétero. Mas acho que se ele ver você, volta atrás na hora”; e no terceiro pôde, em uma cena, ambientada ficcionalmente em Los Angeles, contracenar novamente com Thales Bretas e os filhos Romeu e Gael.

A Covid-19 o levou; não foi uma queda de avião, como tanto tinha medo. Sob suspeita, reitero que não caberiam aqui os elogios aos seus roteiros brilhantes e de uma comédia extraordinária. Além de tudo isso, Paulo viveu francamente; o humor estava incrustado intrinsecamente em seu ser. Era natural. Paulo viveu com valor. Paulo foi ele, e não o que os outros apeteciam que ele fosse – aliás, no teatro, cinema e TV, ele foi muitos -, mas sem perder a essência do ser humano genial, de índole ilibada. Que siga em paz e, sobretudo, com a certeza de que, como ele mesmo disse, “Amar é arte”. Sempre será! Até logo, Paulo! Até a próxima peça – nos palcos de plateia lotada da vida eterna.

*Rômulo Rossy Leal Carvalho é licenciado em História, escritor e membro da Academia de Letras do Vale do Riachão(PI).

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