Festas juninas? Só lembranças…

Por

Andréa Galvão*

Em 02.06.2021

Junho chegou sem festa porque nada voltou ao normal! Nem poderia. Há vacina, mas ainda não é para todos. A pandemia do novo coronavírus apresenta uma similaridade com um mergulho de cabeça no Armagedom. Lá dentro tem um lamaçal escuro, fétido e viscoso que nos impede de nadar e emergir. É um pesadelo dos quais o despertar é sempre adiado e nos falta o ar e o chão, enquanto uma sucessão de cenas aterrorizantes passam na mente e assustam a ponto de fazer o coração bater forte no peito, saltar boca afora e cair bem debaixo da cama. Exagero? Nem tanto. Essa é uma boa metáfora para ilustrar o momento aflitivo em que nos encontramos.

O contágio da maldita Covid-19 acelerou muito mais do que em 2020, uma doença que incapacita, apavora, mata e ao mesmo tempo ensina muito. Aqui estamos nós de novo, privados de nos encontrarmos com os festejos de junho.

Um mês com alguma alegria? Só que não. Na melhor das hipóteses, esta época será representada apenas pela fartura das comidas típicas, uma vez que recebemos a visita das chuvas desde março. Elas caíram abundantes e fizeram verdejar a Serra do Ororubá. Por causa delas, também os milharais espalhados por aí já tem pendão e boneca. Daqui a pouco haverá milho aos milhares na feira. Travei a língua!
Estaremos bem servidos na mesa e desprovidos de felicidade. Não haverá fogueiras que fazem arder os olhos, colocam cheiro de fumaça na roupa e aquecem o coração; forró somente pra ouvir.

Desta vez teremos uma tarde de São João atípica, pois a impiedosa moléstia levou Minervino Osório (nosso Minerva) e sua cavalaria não vai desfilar nas ruas de Pesqueira. A Busca da Lenha dos Xukuru foi cancelada e nós não ouviremos os tiros dos bacamarteiros ecoarem.

É dolorido demais guardar novamente as tradições dentro do armário e só tirá-las quando a guerra acabar. Por enquanto, elas ficarão por lá, numa gaveta perfumada e envoltas em papel de seda colorido, aquele de que são feitas as bandeirolas que enchem os olhos de cores. Tristeza infinda que nos maltrata!

Por ora, engoliremos o choro para seguirmos esperançosos de que essas nuvens densas vão se dissipar e um dia respiraremos aliviados. Ufa!!!

*Andréa Galvão é professora de Língua Portuguesa e Arte no Colégio Santa Dorotéia, revisora ortográfica e redatora. É membro da Sociedade dos Poetas e Escritores de Pesqueira e da Academia Pesqueirense de Letras e Artes.

Foto destaque: Arquivo pessoal de Andréa Galvão e site da Prefeitura de Pesqueira.