Economia dá sinais de melhora

Por

Carlos Sinésio*

Em 09.06.2021

Enquanto alguns propalam aos quatro cantos essa reação da economia, sobretudo bolsonaristas, sabe-se que isso beneficia, de fato, parte da elite que já vive bem. Isso pouco reflete na geração de empregos formais.

Mesmo com a pandemia da Covid-19 e os inúmeros erros do Governo Bolsonaro nos mais diversos setores, a economia brasileira dá sinais de melhora e avisa que está viva. Nos últimos dias, o mercado elevou fortemente a expectativa de crescimento econômico do Brasil em 2021, segundo a pesquisa Focus do Banco Central, que divulgou dados melhores do que o esperado sobre a atividade econômica.

Operadores do mercado financeiro e economistas brasileiros acabam de elevar a previsão do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) deste ano de 3,96% para 4,36%. Também é importante lembrar que o dólar, após disparar nos últimos anos, vem dando uma recuada, o que é ruim para uns (exportadores, por exemplo) e bom para outros (para quem importa ou compra aqui em dólar, por exemplo). O ruim é que a inflação também deve ser maior do que o previsto anteriormente, passando de 5,31% para 5,44%.

Quem é do ramo sabe que a gestão governamental é imprescindível para que qualquer economia cresça, e um País gere riquezas. Mas há setores que, mesmo diante de maldades governamentais, conseguem se sobressair, se desenvolver, fazer o País andar. É o caso do agronegócio brasileiro, que tem caminhado a passos largos há décadas, independente de quem esteja sentado na cadeira presidencial. Há muito tempo, a cadeia produtiva do agro vem se superando, batendo recordes de produção e produtividade. Assim, ajuda muito a balança comercial a ser positiva.

Apesar das adversidades dos últimos tempos, o fato é que a economia nacional vem apresentando dados positivos, o que chama a atenção do mercado externo, tanto de quem importa como quem exporta para cá. Para se ter uma ideia, o Governo Federal tem arrecadado cada vez mais impostos, vem se superando nos últimos tempos. E isso reflete diretamente nos estados e municípios, que também acompanham essa onda positiva (mais para eles do que para o povo).

Mesmo assim, não se vê governo, de nenhuma esfera do poder, falar efetivamente em reduzir alíquotas para baixar o preço dos combustíveis, da energia elétrica e da água, itens essenciais à vida, como o ar que se respira. Há de se imaginar que, quando os preços desses produtos sobem, muitos governantes comemoram, pois sabem que vão abocanhar mais e mais impostos. E a sociedade vai engolindo tudo silenciosamente, contestando, no máximo, com um artigo ou comentário nas redes sociais ou em algum veículo de imprensa. E só.

Esses índices econômicos positivos que surgem são, em parte, reflexo do que o consumidor, já tão sacrificado, vem pagando a mais. Enquanto alguns propalam aos quatro cantos essa reação da economia, sobretudo bolsonaristas, sabe-se que isso beneficia, de fato, parte da elite que já vive bem. Isso pouco reflete na geração de empregos formais.

Se houver uma repercussão positiva nesse sentido, só a longo prazo. Como dizem especialistas no assunto, a geração de emprego é a última consequência boa num processo de recuperação econômica. Enquanto isso, o trabalhador que ainda tem o “privilégio” de ter um emprego (ganhando pouco) ou o desempregado vai amargando a pouca ou quase nenhuma oferta de comida boa no prato.

Quem frequenta supermercados e feiras livres, por exemplo, sabe o quanto o preço da maioria dos produtos tem subido nos últimos dois anos. Isso sem que as correções salariais acompanhem essa inflação real, ficando os trabalhadores com seu suadíssimo dinheiro cada dia mais defasado. A inflação oficial é uma; a do bolso do cidadão e da cidadã pobre é outra bem diferente.

As novas previsões econômicas positivas podem até dar um alento ao governo e a determinados setores e classes econômicas, mas é preciso muito mais. É necessário um crescimento real que reflita na geração do emprego formal digno, onde o trabalhador seja tratado com mais dignidade, tenha salário minimamente decente e, assim, possa pagar suas contas em dia e se alimentar como um ser humano, de fato, merece.

Os números podem até ser ótimos para o Banco Central, para matemáticos, economistas, analistas de mercado. Mas apenas eles não enchem a barriga de quase ninguém. É preciso mais, muito mais!

*Carlos Sinésio é jornalista pesqueirense, 35 anos de profissão, poeta, escritor. Trabalhou no Globo, Jornal do Commercio e Diário de Pernambuco. Foi assessor de comunicação em instituições públicas e privadas e repórter freelance no jornal O Estado de S. Paulo e na IstoÉ. Atua na TV Alepe.

Foto destaque: aspec.com.br