Eu via no São João…
Jénerson Alves*
Em 18.06.2021
A primeira vez que vi Caruaru nos festejos juninos, eu era criança. De calças curtas. Igual na música Siá Filiça. A voz do cantor e o gemido da sanfona faziam um fundo musical que tornava a cidade parecida com um filme bom. “Vozes, cantigas e risos / ao pé das fogueiras acesas”. Igualzinho ao poema de Bandeira…
Eu via os trios de forró pé-de-serra pelas ruas, na frente de lojas, entoando músicas tradicionais. Via pessoas da elite se vestirem da forma mais bonita que existe: como matutos. E havia danças, e havia comidas, e havia gigantismo – não só de fogueira, cuscuz ou pé-de-moleque; a alegria era superlativa.
E eu via os barraqueiros, pipoqueiros, vendendo mais, lucrando mais, sorrindo mais. E eu via as jovenzinhas se arrumando mais, tornando a cidade mais linda. E eu via surgirem transportes alternativos. “O mesmo preço do ônibus, até o Pátio de Eventos. Quem vai?”
E eu via polos juninos. E cantadores de repente. E emboladores. E cordelistas. E sanfoneiros. E quadrilhas. E pinturas. E telas…
Hoje, não vejo nada disso. Não há bandeiras, nem balões, nem o letreiro. Até a estátua de Gonzaga está silenciada. “Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo”, diria Bandeira. “Quando eu lembro disso tudo, Siá Filiça, / me dá vontade de chorar”, cantariam Bia e Fátima Marcolino…
Eu já nem vejo, nem declamo, nem canto, nem danço, nem rio, nem nada. Estou acordado como quem dorme. Profundamente.
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Foto destaque: Geyson Magno/Prefeitura de Caruaru