Copa de 70: título, festa e muito a se aprender

Por

Otávio Toscano*

Em 22.06.2020

Vendo e revendo as coisas da Copa 70. São cinquenta anos desde então. Eu, menino buchudo, com uma camisa amarela que minha irmã, Dodô, pregou um sete nas costas. Fã de Jairzinho. Uma única TV no engenho, na casa de Tio Augusto. Sonhei com o placar e como sempre era feito um bolão. Lacrei. Ganhei sozinho. E tome guaraná. Ídolos não faltavam naquela embarcação de craques. Carlos Alberto, Clodoaldo, Gerson, Rivelino, Tostão. Era um time perfeito. Um monte de gente criativa, que fazia poesia com a bola. E a rima era sempre gol. E quando nada acontecia, acontecia o gênio. O Deus do futebol. O Brasil foi pra Copa com Pelé, o que já era garantia de um título anunciado. Enquanto os treinadores dos times adversários botavam o time inteiro pra marcar Pelé, a esquadrilha de craques bombardeava o inimigo, calando um a um, até a apoteose final, com uma goleada humilhante sobre a Itália.

Eu, menino, apenas vibrei. Mas que bom que temos a história, apesar da postura medíocre do atual governo considerar as Ciências Humanas como bobagem, que não dá dinheiro. Enquanto Pelé, Jairzinho, Tostão e companhia faziam gols e enchiam de alegria os sorrisos nacionais, um monte de gente estava morrendo. Não do Corona-19 que nos mata e nos deixa órfãos. A ditadura na época dava carta branca para a morte de opositores. Jovens, em sua ampla maioria, que tudo que queriam era liberdade. Liberdade de ouvir uma música, liberdade de questionar o errado, liberdade de fazer escolhas. Apenas, liberdade.

O que uma coisa tem com a outra é bem simples. Eu não me sinto bem sabendo que pessoas irão morrer por nada. Sem velhice, sem amor, sem fantasias. Invadir shoppings, praias, salões de beleza, academias, como já começaram a liberar, andar pelas calçadas lotadas, fazer e acontecer achando que uma máscara pode tapar o sol da morte.

O capitão Carlos Alberto ergue a taça da conquista da copa de 70, no México.

Meu pai me deu um compacto com a narração de cada gol daquela Copa. Por anos e anos ouvi, repeti, sonhei. Mas, hoje, depois de ter passado um período considerável da minha juventude como repórter de esportes, posso afirmar sem medo. Há precipitação nesse retorno. Futebol é um esporte de contato. E não estou falando dos jogadores se batendo em campo ou no abraço do gol. Falo do boteco da esquina, onde aos 35 minutos do segundo tempo não haverá uma única máscara no rosto. E a discussão do foi ou não foi falta e o abraço na hora do gol, sempre emoções contagiantes, irão contagiar.

Medo, muito medo que a segunda onda do coronavírus nos destrua antes mesmo da primeira se acabar. Medo, muito medo de pessoas que acham que a ditadura sanguinária precisa voltar.

*Otávio Toscano é jornalista

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.