O banho
Jénerson Alves*
Em 24.09.2021
Ela chega em casa exausta. Joga os saltos altos em um canto qualquer e deixa-se cair no sofá. O cabelo cobre o rosto cansado. Ela dobra as pernas, subindo o vestido e revelando sua calcinha escarlate – uma cor que, aliás, gera um contraste provocante com relação à tonalidade de sua tez. Porém, ela está sozinha. Por trás da sensualidade que ela espalha diariamente, há uma solidão que ninguém vê.
Muitas dúvidas passeiam por sua mente. Um broto de dor tem guarida no seu coração. Seus olhos cálidos também são mergulhados em lágrimas.
Devagar, ela se levanta do sofá. Busca forças sabe-se lá onde.
– Vou tomar um banho! – fala para ninguém (ou para si mesma).
Lentamente caminha até o banheiro, enquanto baixa o zíper da sua roupa. Vai se despindo no caminho. Enquanto tira a roupa do corpo, parece tirar escamas da alma.
Tranca a porta. Abre o chuveiro. A água fria molha sua fronte, mistura-se ao pranto que rola de seus lindos olhos. O líquido vai descendo suavemente pelo seu corpo, como que beijando-o.
Ela fecha os olhos. E parece que o banho se torna um templo. Ela nunca foi de rezar, mas decidiu que queria falar com Deus. Na Bíblia, até os discípulos que andavam com Cristo tinham dúvidas sobre como orar, quanto mais ela – que nunca andou com ninguém, apenas com suas (in)certezas?
Naquele silêncio, a mulher confessa ter uma sede que nunca cessa. E lava-se, como que querendo lavar sua alma. E pede que a Fonte de Água Viva brote dentro dela, e lave o seu coração…
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Foto destaque: Freepik/Divulgação.