O hiperbólico

Por

Jénerson Alves*

Em 01.10.2021

Filho de um admirador da língua grega, recebeu do pai um nome atípico: Hipperbolé. Talvez por isso, ele foi hiperbólico desde sempre. Quando nasceu, afogou-se em lágrimas molhando toda a sala da maternidade. Foi necessária uma luta hercúlea para entregá-lo à mãe. Morto de fome, mamou um oceano de leite em sua primeira refeição.

O tempo foi passando e ele se tornava cada vez mais exagerado.

Na adolescência, não havia uma só garota pela qual não se apaixonasse. A cada segundo, entregava as estrelas de longínquas galáxias a uma gata diferente. Seu coração batia com tanta violência que a cidade toda o ouvia.

Até que, certo dia, vivenciou uma experiência traumática. Ele, que outrora era o mais pontual dos humanos, desleixou-se e perdeu o horário. O que seria comum para qualquer outra pessoa para ele se tornou motivo de intensa desolação. Inicialmente, sentiu um abismo abrir em seu coração. O véu do fracasso e a capa da vergonha cobriram-no integralmente.

Como em uma epifania, caiu em si. Abriu mão de sua grandiloquência. A humildade estava para ele como a criptonita para o Superman.

Mas quem gostaria de ser Superman? O sublime habita na simplicidade! Que haveria de ser mais heroico do que o prosaico?

Nada se soube mais sobre ele. Talvez tenha vivido, certamente já tenha morrido. Sem dúvida, foi feliz – e isso não se registra nos grandes livros.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Foto destaque: reepik/Divulgação