Urgência e deficiência da chamada terceira via

Por

Enildo Luiz Gouveia*

Em 22.10.2021

O Brasil é um país onde, em processos eleitorais, sobretudo nos mais recentes, é grande o número de abstenções, votos nulos e brancos. Este fenômeno de certa antipatia com as eleições contrasta com o engajamento e a atmosfera dos anos eleitorais. Sou defensor da unificação das eleições nos três níveis da federação, pois, da forma que está, termina por engessar o país num ciclo eleitoral que, embora se dê a cada dois anos, na prática, se estende aos demais. Certamente a unificação traria alguns problemas, visto que parte da população ainda é analfabeta e/ou não costuma acompanhar em detalhes o panorama político, nem conhece como se estrutura ao certo a nossa democracia representativa, o que contribuiria para algumas dificuldades na hora de votar.

Os institutos de pesquisas e as emissoras de rádio e TV, os jornais impressos e digitais e blogs contribuem para que o processo eleitoral se prolongue. Em pouco tempo após o término de cada eleição, começam a ser divulgadas pesquisas para a eleição seguinte. É um círculo vicioso que mais atrapalha que ajuda, pois parece querer reduzir a eleição ao ato de votar e ser votado.

Nos últimos meses o debate sobre uma terceira via para as eleições presidenciais de 2022 tem tomado muito tempo do noticiário. Já falei algumas vezes que não apenas sou favorável a uma terceira via como sou favorável a tantas outras vias que possam existir. O mundo, a natureza, a vida não é binária e a realidade não está restrita ao “oito ou oitenta”. Esquerda e direita não são espectros ideológicos homogêneos. Geralmente, ao pensarmos que existem apenas duas opções, há uma enganosa ideia de que o que está posto são extremos, ou ainda pior, que o que está posto é tudo igual. Parte considerável dos que defendem hoje a terceira via para o Brasil, estrategicamente colocam os dois principais concorrentes ao Planalto neste jogo. Querem equiparar Lula a Bolsonaro e vice-versa, o que de partida já demonstra que a intenção é confundir e não esclarecer.

Dos postulantes a protagonista da terceira via, a maioria quer manter o status quo democrático e viciante do país, além de manter as políticas neoliberais de Estado Mínimo. Basta ver, por exemplo, para onde vão os apoios no segundo turno quando os chamados independentes (terceira via) não passam do primeiro turno. Quais são os pressupostos adotados para definir este apoio? Lembro-me muito bem da frase do candidato a presidente pelo Partido Novo, em 2018: “Não vamos apoiar ninguém no segundo turno. Mas queremos deixar bem claro que nosso plano de governo é totalmente contrário ao do PT.”  Ou seja, o plano de governo dele era compatível com o do outro candidato, e sendo assim, excluiu-se mais um discurso de terceira via.

Uma terceira ou mais vias que possam existir não pode simplesmente ser de aparência ou apenas mesclar traços dos “extremos” para se mostrar como novo. Na forma que se apresenta este debate no Brasil não só é enganação como prejudica o processo democrático.

Uma alternativa para quem acha que neste momento cabe este discurso enganoso da terceira via seria observar as propostas dos postulantes especialmente nos temas centrais como: Economia, Meio Ambiente, Educação entre outros. Há de fato novidade ou não passa de aparências, de fake news?

*Enildo Luiz Gouveia é professor, teólogo, poeta, cantor e compositor. É membro da Academia Cabense de Letras.

Este texto não reflete necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.

Foto destaque: medium.com