Apesar da pandemia, Brasil aumentou em 9,5% emissões de gases do efeito estufa em 2020
Guilherme Justino, do Um Só Planeta
Em 28.10.2021
Na contramão do mundo, país poluiu mais devido, principalmente, ao desmatamento na Amazônia – elevando em 9,5% os níveis de 2020, conforme dados do Observatório do Clima
Enquanto, no mundo inteiro, as emissões de gases de efeito estufa caíram 6,4% em 2020 – por conta da freada econômica durante a pandemia –, o Brasil seguiu o caminho contrário: as emissões brasileiras cresceram 9,5%. Devido, principalmente, à alta no desmatamento no ano passado, o Brasil registrou seu maior montante de emissões desde 2006. Assim, se coloca em desvantagem no Acordo de Paris, às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que começa no domingo (31/10), em Glasgow, na Escócia.
Com o aumento da emissão e a queda de 4,1% no PIB, o Brasil ficou mais pobre e poluiu mais, aponta uma estimativa divulgada nesta quinta-feira (28/10) pelo SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), do Observatório do Clima, que todo ano calcula quanto o Brasil gerou de poluição climática. As emissões nacionais brutas chegaram a 2,16 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e) em 2020, contra 1,97 bilhão em 2019.
Descontando as remoções de carbono por florestas secundárias e áreas protegidas, as emissões líquidas do país no ano passado foram de 1,52 GtCO2e, o que representou um aumento de 14% em relação a 2019, quando elas foram de 1,34 GtCO2e. Dos cinco setores da economia que respondem pela virtual totalidade das emissões do Brasil, três tiveram alta, um teve queda e um permaneceu estável.
O setor de energia, que respondeu por 18% das emissões do país no ano passado, teve uma queda forte, de 4,6%. Isso ocorreu em resposta direta à pandemia, que nos primeiros meses de 2020 reduziu o transporte de passageiros, a produção da indústria e a geração de eletricidade. Com 394 milhões de toneladas de CO2e, o setor energético retornou aos patamares de emissão de 2011.
O que puxou a curva das emissões para cima e tornou o Brasil uma das únicas grandes economias a aumentar suas emissões no ano em que o planeta parou foi a mudança de uso da terra. Representadas em sua maior parte pelo desmatamento na Amazônia e no Cerrado – que, somados, totalizam quase 90% das emissões do setor –, foram emitidas 998 milhões de toneladas de CO2e em 2020, um aumento de 24% em relação a 2019 (quando a emissão foi de 807 milhões).
O relatório do SEEG aponta que o desmatamento na Amazônia em 2020 sofreu uma alta expressiva, atingindo 10.851 km2, segundo os dados do sistema Prodes/Inpe. O SEEG utiliza nas suas estimativas os dados do consórcio MapBiomas, que mede também o corte de florestas secundárias. Apenas na Amazônia, a emissão por alterações no uso do solo alcançou no ano passado 782 milhões de toneladas de CO2e.
Se a floresta brasileira fosse um país, seria o nono maior emissor do mundo, à frente da Alemanha. Somando o Cerrado (113 milhões de toneladas de CO2e) à conta, os dois biomas emitem mais que o Irã e seriam o oitavo emissor mundial.
Foto destaque: Greenpeace