O poder político vicia

Por

Enildo Luiz Gouveia*

Em 25.11.2021

Em todo pleito eleitoral em qualquer lugar do mundo, temos ao menos dois grupos disputando o poder. Há os que estão momentaneamente no poder e os que querem retomá-lo ou alcançá-lo pela primeira vez. Considero um vício dos partidos e lideranças políticas o desejo de permanecer no poder. No entanto, tal conduta é coerente com a natureza do próprio poder político. Ou seja, a tentativa de se manter no poder, desde que respeitando as regras democráticas, não é algo de se estranhar, pois, uma vez alcançado há de se lutar para mantê-lo.

No Brasil podemos citar o caso do PSDB no Estado de São Paulo. Há 30 anos governa aquele Estado e não há sinais de querer abdicar deste comando. Embora possamos criticar veementemente, há de se compreender tal conduta. Também no Estado de Pernambuco há 16 anos governado pelo mesmo partido, assim como na Bahia e em outros Estados da federação, temos partidos ou grupos políticos que permanecem longos períodos no poder. Assim, percebe-se que tal desejo permeia todos os espectros políticos, de direita ou de esquerda.

Não conheço na história nenhum Império, Reino ou Governo que tenha decidido livremente deixar o poder. A política é jogo de interesses. Resta saber quais os interesses determinado grupo defende, se são interesses da maioria ou de um grupo privilegiado.

Analisando as articulações políticas com vistas às eleições do próximo ano percebemos esta característica comum: o poder vicia. Políticos, partidos e grupos diversos se articulam para conseguir ser vitorioso no pleito eleitoral e, assim, iniciar seu processo com vistas à manutenção do poder. Para tanto, lançam mão das mais diversas estratégias, incluindo a contradição ideológica, as alianças pragmáticas e pontuais, e a compra de apoios mediante acordos de participação no futuro governo, a permuta de apoios políticos em cidades e estados mais importantes.

Aos eleitores, submetidos ou de certa forma acomodados na função de espectadores, cabe apenas o comparecimento nas eleições: votar, guardar seu comprovante e dormir com a triste ilusão de que cumpriu seu papel nesse processo. Tal conduta apenas reforça o caráter viciante da política, pois, quem não acompanha o desenrolar do processo político tende a votar, consciente ou inconscientemente, nas mesmas pessoas, nos mesmos grupos políticos, ainda que estes não estejam atuando coerentemente com os interesses públicos.

*Enildo Luiz Gouveia é professor, Teólogo, poeta, cantor, compositor e membro da Academia Cabense de Letras – ACL.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do blog Falou e Disse.