O regresso de um brincante

Por
Domingos Sávio*
Em 14.12.2021
No mundo dos músicos das orquestras de frevo, aqui no Cabo de Santo Agostinho, nós aprendemos a chamar de “mutretas” os contratos informais, verbais, pactuados às vésperas, onde uma equipe de músicos é formada rapidamente para acompanhar uma troça… puxar um bloco, às vezes horas depois.
Para nós que fazíamos e fazemos os carnavais de rua, mutreta é um termo bem-humorado, irreverente e crítico – como o próprio carnaval, mas nunca pejorativo.
Os carnavais das troças, em sua maioria, sempre foram em certa medida informais – as orquestras também.
Todos fomos. Saxofonistas, trombonistas, surdistas, trompetistas, professores, alunos, iniciantes e veteranos.
Estivemos desde a juventude, nas vilas, praias, distritos e clubes do município, fazendo a música tradicional do carnaval. Fazendo mutretas, para a alegria dos foliões.
Luiz Eduardo também esteve. Não tocava trombone nem trompete, mas era dono de uma voz grave e segura que revisitava os frevos de Capiba, Michiles e tantos outros, no palco ou nas ruas, com ajuda de um microfone e um carro de som.
Foi sua praticidade em lidar com os improvisos dos dias de carnaval reunindo músicos e acompanhando agremiações carnavalescas que lhe conferiu, entre os seus amigos próximos, a titulação de Eduardo Mutreta.
Mas nem só no frevo vive o brincante. Edu Teixeira também era do Forró, da Ciranda e do Pastoril.
Foi o pastoril, em especial, que nos aproximou na década de 1990, quando acompanhei o Estrela Guia como saxofonista. Anos depois fiz a introdução do arranjo de “Ciranda do Povo” que ele gravou com suas irmãs Graciete e Elizete Souza.
Hoje , no Dia Nacional do Forró, aniversário de Gonzaga, Eduardo partiu.
É um golpe duro pra todos que dividimos as memórias da juventude nos carnavais de rua desta cidade.
Quando voltarmos às ruas com todas as troças, todas as orquestras, com todos os músicos e cantores, Luiz Eduardo vai fazer uma falta enorme. Ele estará noutro plano, certamente cantando.
Por aqui, no mundo das orquestras de frevo, a gente segue tocando e agradecendo por tê-lo conhecido, pela sua presença entre nós e lembrando que somos todos Mutreta.
*Domingos Sávio é maestro, membro da Academia Cabense de Letras e secretário de Cultura do Cabo de Santo Agostinho.