Vamos a Belém
Jénerson Alves*
Em 24.12.2021
Passava da meia-noite. Os pastores alimentavam e protegiam ovelhas, em um campo próximo às colinas de Belém da Judeia. O intenso fluxo de pessoas na região, devido ao censo instituído por Augusto, representou mais trabalho para aqueles rudes homens. De repente, a escuridão noturna foi tomada por um brilho repentino. O medo pairou sobre aqueles pastores, costumeiramente destemidos. Todavia, uma voz celeste trouxe alívio: “Não temais, eis que vos trago uma boa-nova de grande alegria”. Um mensageiro do céu anunciou que nascera o Pastor da Humanidade.
Ouvir essa mensagem gerou fé. E a fé precede ação. Disseram uns aos outros: “Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer”. Rapidamente, e não aos poucos, eles chegam à gruta e veem Aquele que vestiu o universo – uma criança coberta com panos, deitada em uma manjedoura. Nele, a essência de toda existência. A via, a verdade, a vida. A Estrela da Manhã, o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim.
Assim como esses pastores, sou eu. Julgo proteger tudo que está sob minha responsabilidade, mas estou em uma noite escura rodeado pelas colinas das minhas vagas compreensões. Quisera eu ser irradiado por uma célica visão e ouvir uma voz sublime que traga notícias de alegria, dissipando a tristeza impregnada nas pedras da minha alma! Quisera eu levantar-me dos meus devaneios e ir até Belém, a Casa do Pão. Quisera eu adentrar à gruta do meu espírito e avistar, envolto em panos, Aquele de Onde Provém Toda Luz. Se assim ocorrer, a exemplo dos humildes pastores de Belém, hei de divulgar o que havia sido dito acerca de tal Menino. E um som ecoará no coração, louvando ao Senhor e dizendo: “Gloria in altissimis Deo, et in terra pax hominibus bonae voluntatis”.
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Foto destaque: Adoração dos pastores, de Bartolomé Esteban Murillo