Família de ambientalistas é assassinada no Pará: pai, mãe e filha tinham projeto de soltura de quelônios no Rio Xingu

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Mônica Nunes/ Conexão Planeta

Em 12.01.2022

No último domingo, 9 de janeiro, José Gomes, Marcia Nunes Lisboa e a filha do casal, Joene, foram encontrados mortos na região conhecida como Cachoeira do Mucura, onde moravam, a cerca de 90 quilômetros de São Felix do Xingu, no Pará. Segundo a Polícia Civil, o filho do casal encontrou os corpos do pai e da irmã ao lado da casa, que fica às margens do Rio Xingu; e o da mãe, boiando no rio.

Eles foram mortos a tiros e cápsulas das balas foram encontradas no local do crime, que pode ter ocorrido três dias antes devido ao estado de decomposição dos corpos.

Zé do Lago (apelido carinhoso dado por amigos) e Márcia moravam na localidade há mais de 20 anos e eram conhecidos devido ao projeto de soltura de quelônios e repovoamento das águas do Rio Xingu e também por outras atividades de proteção ambiental na região.

O cenário do crime leva a crer que este é mais um caso de assassinato encomendado – realizado por pistoleiros -, como aconteceu com Chico Mendes, em 1988, Irmã Dorothy Stang, em 2005, e o casal de seringueiros Maria e Zé Claudio, em 2011.

Claro que não é possível afirmar nada ainda – as investigações foram iniciadas no domingo e só depois de ouvir membros das famílias das vítimas é que o delegado José Carlos Rodrigues se pronunciará, de acordo com nota divulgada pela Polícia Civil.

Se alguém tiver Informações que possam auxiliar nas investigações ou souber do paradeiro dos assassinos, entre em contato pelo disque-denúncia, no telefone 181.
Brasil é um dos países que mais mata ambientalistas

Zé do Lago, Marcia e Joene certamente vão integrar a lista de ambientalistas mortos no Brasil. Em 2021, relatório da Global Witness (GW) – organização internacional de direitos humanos – elegeu o Brasil como o quarto país que mais mata ativistas, ambientalistas e indígenas no mundo, como noticiamos aqui.

Como apontado em relatórios de anos anteriores, a América Latina é a região que concentra o maior número de óbitos. Quase 3 em 4 foram registrados no Brasil e, aqui e no Peru, a maioria dessas mortes aconteceu na Amazônia.

Ainda segundo o documento da GW, aproximadamente 30% dos ataques estão vinculados à exploração de recursos naturais, como mineração, indústria madeireira, construção de usinas hidrelétricas, e também, ao avanço do agronegócio sobre áreas de floresta.

Em suas redes sociais, o empreendedor social e ativista socioambiental Caetano Scannavino foi um dos primeiros a divulgar a morte da família. Ele declarou, indignado: “#AmazoniaGangster, assim como a Chicago dos anos 20. Sem resolver isso, a pergunta segue a mesma de sempre: quem será o próximo? Enquanto o “legal for o ilegal”, falar em “desenvolvimento sustentável” soa como balela. Tristes tempos”.

Vale lembrar que Caetano e seu irmão, Eugênio Scannavino, ambos fundadores e diretores da ONG Saúde e Alegria, foram vítimas de perseguição no episódio dos brigadistas de Alter do Chão, em 2019, como noticiamos aqui. O inquérito foi arquivado por ser considerado inconsistente. Foi pura perseguição.

A seguir, assista a vídeo em que a família realiza uma das solturas de filhotes de quelônios no Rio Xingu, com depoimento de Zé do Lago.

Mônica Nunes – Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.

Reportagem publicada em Conexão Planeta no dia 11.01.2022

Foto: Reprodução de redes sociais