Na noite escura da alma

Por

Jénerson Alves*

Em 14.01.2022

Acabrunhado, melancólico e desesperançado, eu trilhava o caminho a Emaús. Meus pés estavam doloridos e empoeirados com a caminhada. Meu coração estava ainda mais sofrido; e minha mente, aturdida com o ocorrido. Não havia mais sonhos. Nem esperança. Até as lágrimas cessaram. Eu seguia ao lado de um amigo; mas, dentro de mim, tudo era silêncio e solidão.

Veio, então, aquele jovem, perguntando o óbvio. Meio sem querer, começamos a contar: “A esperança era que um homem, chamado Jesus, iria libertar nosso povo. Ele era profeta e realizava grandes milagres, mas foi condenado à morte e crucificado”. Narrei os fatos sobre a morte daquele homem. Neles, podia-se perceber a descrição da morte dos meus sonhos. Meu coração estava em sombras. Minha alma, gélida. Meu presente, insípido.

A conversa se prolongou e chegamos perto do povoado. A noite estava vindo, como viera a escuridão para dentro de mim. Procuramos um local para repousar e insistimos para aquele jovem permanecer conosco. Ele aceitou. Quando partia o pão para refeição, parece que escamas caíram de nossos olhos. Reconhecemos que o moço imberbe era o mesmo Cristo ao qual lamentávamos!

Daquele momento até agora, busco ter olhos atentos a milagres escondidos nas sendas do cotidiano. Na noite escura da alma, os olhos não enxergam nada, além das próprias misérias. É quando a Luz pode vir, disfarçada e humildemente, aquecer o coração e refulgir raios de esperança em quem claudica na estrada da vida.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.     

Imagem: Ceia em Emaús (Caravaggio).