A água “invisível”
Enildo Luiz Gouveia*
Em 22.03.2022
A recarga das reservas, se exauridas, pode demorar milhares ou milhões de anos.
Águas subterrâneas: tornando visível o invisível é o tema do Dia Mundial da Água 2022, que é comemorado hoje, dia 22 de março. A proposta é conscientizar e alertar as pessoas e autoridades para a importância e os problemas relacionados a esta água que, por não estar na superfície, muitas vezes é ignorada, super explorada e contaminada pela ação humana.
As águas subterrâneas são aquelas que se encontram abaixo da superfície e formam os aquíferos e lençóis freáticos, e estão associadas às formações geológicas. Em geral, são águas muito antigas que formam, por vezes, imensas reservas chegando a abastecer cidades inteiras. Calcula-se que o volume de água subterrânea no mundo seja em torno de 10,5 milhões de km3 o que equivale a 97% de toda água doce disponível.
No Brasil, temos dois dos maiores aquíferos do mundo: o Aquífero Guarani, que se estende para os países do Mercosul, e o Aquífero Alter-do-chão, que está totalmente em nosso território. Todavia, apesar destas e outras reservas, não é verdade que em todo lugar que se perfurar dá água; e nem toda água que se encontra pode ser utilizada para consumo. No Nordeste, por exemplo, especialmente aqui no Estado de Pernambuco, a vocação para reservas subterrâneas de água é muito fraca. Isto ocorre em função do predomínio na região de uma formação geológica denominada de cristalino que, em geral, não favorece a ocorrência de grandes reservas. Excetuando-se a faixa litorânea, com terrenos mais jovens e sedimentares, e algumas outras áreas de exceção no interior do Estado, podemos atestar nossa pouca disponibilidade de água subterrânea.
No Recife e na Região Metropolitana, área de maior adensamento populacional do Estado, se convive com décadas de racionamento de água, e para contornar a situação, a alternativa de suprimento de água muitas vezes passa pela perfuração de poços sem autorização dos órgãos competentes, nem respeitando os parâmetros de segurança, contribuindo para o processo de contaminação. Vale destacar que tal cenário agrava as situações de intrusão marinha (contaminação do aquífero por água salgada) e de subsidência de terrenos (dado o rebaixamento acelerado do nível da água subterrânea) e contaminação por esgotos e outros efluentes.
Órgãos como a Agência Nacional de Águas (ANA) tem alertado para o alto consumo sem fiscalização da água subterrânea. Estudos têm demonstrado que as residências que possuem poços para captação de água subterrânea consomem muito mais água que aquelas ligadas à rede geral de abastecimento. Isto se deve por causa da falsa ideia de que a água não vai acabar e que podemos gastar a vontade porque não se está “pagando” por ela.
As águas subterrâneas são de extrema importância, mas a fiscalização de sua exploração é insuficiente. A população e os poderes competentes precisam compreender a importância e passar a utilizá-la dentro dos parâmetros que garantam a sustentabilidade e a recarga das reservas, pois estas, se exauridas, sua recomposição pode demorar milhares ou milhões de anos.
*Enildo Luiz Gouveia – É professor doutor em Geografia, teólogo, poeta, cantor e compositor. Membro da Academia Cabense de Letras – ACL.
Parabéns, Enildo! Esclarecimento de grande importância sobre a água.