Violência nas escolas: uma breve reflexão

Por

Mirtes Cordeiro*

Em 21.03.2022

Quando a violência acontece na escola, impacta de forma negativa o desenvolvimento da criança por toda sua vida.

Violência nas escolas é um grande problema. Não só prejudica a aprendizagem como interfere no cotidiano da escola, deslocando-a dos seus objetivos e destituindo a autoridade pedagógica.

A violência, de um modo geral, tem sido cada vez mais frequente na relação entre os seres humanos no mundo moderno, até mesmo mais sofisticada, porque seus estágios, se é que se pode escalonar, estão também relacionados ao desenvolvimento das tecnologias.

As redes sociais têm sido abrigo transmissor de violência na medida em que atualmente tem sido comum que crimes aconteçam e se organizem através da comunicação por elas oferecidas. O problema, no entanto, não é da comunicação nas redes, mas da capacidade que o ser humano desenvolve no plano da maldade, em função da ganância pelo poder.

As escolas, como um ente da sociedade, têm sido um ambiente no qual prospera a violência de várias formas, internamente e no ambiente que as rodeiam, daí a complexidade no trato dessa questão para que os objetivos e a ação pedagógica da escola possam ser preservadas.

Um estudo realizado pela UNESCO em 2016 identificou que nas escolas os alunos não estão mais seguros do que na rua e que a violência atinge as escolas públicas e particulares. “Professores e alunos convivem com as ameaças decorrentes de atividades criminosas: tráfico de drogas, posse de armas e atuação de gangues… quarenta por cento dos professores atribuem o problema da violência nas escolas ao envolvimento de alunos com o tráfico”.

A situação de violência descrita pela UNESCO foi atenuada pela pandemia com o fechamento das escolas.

No entanto, após a abertura das escolas, voltam ao noticiário narrativas sobre violência em escola do Distrito Federal com luta corporal e o esfaqueamento de aluno.

Os adolescentes, segundo a polícia, iniciaram a briga fora da escola e um deles foi apreendido portando porção de maconha.

Bastante interessante um projeto intitulado Violência na Escola-Diagnose e Reflexão, de iniciação científica e iniciativa da professora universitária Maria Eleusa Montenegro, acompanhada por um grupo de universitários pesquisadores, implantado numa escola da Asa Norte, em Brasília. Tem como metodologia o diálogo entre alunos e entre alunos e professores, cujo objetivo é desenvolver reflexões sobre danos causados pela violência e resgatar a importância do trabalho da escola, que é desenvolver um ambiente de aprendizagem em todos os níveis, visando o bom desempenho de alunos e professores.

Após breve interrupção por conta da pandemia, o grupo tem mantido o trabalho de forma virtual.

Não é nada fácil porque a violência na escola é também a extensão do que acontece na sociedade, mas “a ideia da professora era justamente colocar em prática um projeto de intervenção que buscasse promover a paz no ambiente escolar, e tentasse minimizar os danos causados por esses episódios na vida das crianças e adolescentes”. (Jornal de Brasilia)

Alguns estudiosos têm relacionado como fatores de violência, além da violência urbana, do tráfico de drogas e da negligência dos pais na condução da educação dos filhos, outras questões relacionadas à própria escola, como a falta de diálogo entre alunos e professores e as atitudes autoritárias praticada por parte dos gestores escolares e professores.

Alguns gestores se sentem os donos das escolas porque são a extensão do poder político, já que foram conduzidas ao cargo por indicação de um representante político. Assim como professores se sentem donos da disciplina que ensinam, não cabendo questionamentos pelos alunos, sendo apenas a nota da prova o ponto de referência.

A violência expressa dentro das escolas tem sido motivo de várias pesquisas, resultando em dados que facilitam o tratamento da questão por parte das instituições públicas e pela própria escola.

Em pesquisa realizada pelo Sindicato dos Professores (Sinpro) em 2018, consta que 97,15% dos educadores da rede pública já presenciaram atos de violência nas redes de ensino. A pesquisa foi realizada com 1355 profissionais de diferentes regiões administrativas”. (JB 2020)

Um estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2019, mostra que o Brasil lidera o ranking de agressões contra docentes. “Os dados utilizados são de 2013, quando 12,5% dos professores de instituições brasileiras ouvidos, relataram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos ao menos uma vez por semana. Entre os 34 países pesquisados, a média é de 3,4%”. (JB 2020)

O Ministério da Educação em parceria com a Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais desenvolveu o estudo Diagnóstico Participativo das Violências nas Escolas, resultando que 69,7% dos jovens afirmam terem visto algum tipo de agressão dentro da escola, e que em 65% dos casos a violência parte dos próprios alunos; em 15,2%, dos professores; em 10,6%, de pessoas de fora da escola; em 5,9%, de funcionários; e, em 3,3%, de diretores.

Segundo a professora Mara Weber, há também a violência contra a escola, que é aquela em que a política educacional não é valorizada, quando os orçamentos não contemplam as necessidades básicas de infraestrutura, livros para as bibliotecas, materiais e instrumentos para o trabalho, como computadores, rede de internet e, sobretudo, quando os salários dos professores são aviltados.

A questão, amplamente estudada, é de conhecimento de todos.

A violência não nasce na escola, mas a escola reflete de forma acentuada o que acontece na sociedade, que se traduz na violação dos Direitos Humanos, sobretudo através das atitudes de violência que ameaçam a vida e a integridade física da população nas grandes cidades.

No entanto, quando a violência acontece na escola, impacta de forma negativa o desenvolvimento da criança por toda sua vida.

É da natureza da Educação a conversa, o diálogo, o debate em torno do conteúdo estudado, da vida. É da natureza do processo de aprendizagem que se estimule no aluno em qualquer fase dos seus estudos, a criatividade e o gosto pela dúvida, pela pesquisa, porque é nessa relação que acontecem o surgimento de novas ideias dos novos conhecimentos e a aprendizagem propriamente dita.

É da responsabilidade da escola proporcionar uma formação extensa e crítica que proporcione a todos o exercício da cidadania.

Além disso, é na troca de experiências que se fortalecem as relações de amizade, confiança, solidariedade entre os alunos e entre alunos e todos que fazem o trabalho da escola, especialmente os professores.

Por isso, é necessário abrir espaços no tempo destinado ao ano letivo, para ações que incorporem as rodas de conversas, o acompanhamento psicológico e às boas práticas que tenham referência na amplitude da garantia dos deveres e direitos de cada um.

Que se utilizem as técnicas de Mediação de Conflitos no âmbito do currículo e das boas práticas pedagógicas para construir com a comunidade escolar, um espaço de convivência onde a aprendizagem tenha o lugar que lhe é devido, com prioridade.

*Mirtes Cordeiro é pedagoga. Escreve às segundas-feiras.

Foto destaque: descomplica.com.br