Se existe uma ave folgada, é o chupim. As fêmeas, por exemplo, escolhem o ninho de outras aves, muitas vezes do tico-tico, para deixar os ovos e simplesmente vai embora. Cabe a mãe adotiva chocar os ovos e alimentar os filhotes

‘Chupins’ humanos

Por

Vera Rocha*

Em 05.07.2020

A chuva fina aquieta um pouco a movimentação nessa manhã de inverno.

Aqui do terraço de casa posso contemplar a Natureza em sua plenitude!

O vento leve balança os pés de Flamboyant aqui da praça.

Nesse período do ano ainda há resquícios de suas flores vermelho-alaranjado. A verdura das folhagens tão bem desenhadas me faz pensar na grandeza do Criador.

Não dá pra desacreditar numa Força Superior que a tudo cria com riquezas de detalhes e perfeição! Costumo dizer quando observo a Natureza: “e ainda há quem não acredite em Deus!”.

A passarada faz festa nos galhos das árvores, nos fios elétricos, nos muros e, timidamente, descem até ao chão para recolher as migalhas caídas. Observei certo dia, quando os raios solares inundavam de vida e calor o ambiente, dois pássaros que se alimentavam. Era a mãe que carinhosamente bicava o alimento e colocava no bico do filhote.  A cena me comoveu. Vieram à memória gestos de outros animais que cuidam com zelo e esmero de seus filhotes, proporcionando aos humanos lições de grandiosas formas de amar e servir.

Por outro lado, me lembrei de uma ave que dentre as demais tem comportamento curioso, os chupins, também chamados de engana tico-tico, de plumagens pretas, cujos machos, quando sob sol intenso, suas plumas adquirem coloração azul-violeta e suas fêmeas têm plumagens preto-opacas.

São habilidosas ao voar e especialistas em se apropriar do ninho de outras aves, para ardilosamente colocarem seus ovos a serem chocados e seus filhotes por outros alimentados, geralmente por tico-ticos. São parasitas, aproveitadores, tal qual no mundo humano, os que se alimentam da ingenuidade, da bondade, da ignorância e da fome de outros, para se darem bem e seguir a sua marcha de ilusão e de trapaça, “os chupins humanos”.

*Vera Rocha é poeta, psicopedagoga e membro da Academia Cabense de Letras.

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