Poeta, como estão as musas?

Por

Jénerson Alves*

Em 12.08.2022

Sorriso fácil, olhar singelo, andar humilde. Essas eram algumas características do poeta Zé Vicente da Paraíba. Lembro-me de uma vez que me deparei com ele em um ônibus. Ele se sentou ao meu lado, perguntando: “Poeta, como estão as musas?”, referindo-se à inspiração para compor novos trabalhos. Eu ainda era um adolescente, com pouca criatividade. Ele me incentivou a continuar escrevendo e me entregou um papel com o mais recente poema da sua lavra, naquele momento.

Estávamos no início dos anos 2000. Era fácil topar com Zé Vicente pelas ruas de Caruaru, seja no Museu do Cordel, no Projeto Bebendo Poesia, na Fafica ou nas emissoras de rádio, mais precisamente nos programas de repentistas. Por trás de um corpo debilitado pela idade, havia um espírito iluminado, que diariamente bebia da fonte etérea da poesia.

Tive o privilégio de ouvi-lo cantar em um pé-de-parede no Bar do Vinho, tradicional estabelecimento situado no bairro do Cedro, onde eram promovidos eventos poéticos. Ao lado do também veterano Dedé Gonçalves, Zé Vicente mostrava que seu engenho mantinha-se vívido…

Seu nome é uma referência em nossa poética. Foi o primeiro cantador a gravar um LP do gêner|, em 1955. Autor de poemas como ‘Quanto é grande o Autor da Natureza’, gravado por um sem-número de artistas da MPB, como Zé Ramalho, Jorge Mello, Alceu Valença e Marília Pêra. Com tantos atributos que não cabem nestas linhas.

Voou para o Céu no dia 09 de maio de 2008. Se estivesse entre nós, teria completado 100 anos no último dia 07 de agosto. Às vezes, andando por Caruaru, sinto que o ouvirei perguntar-me: “Poeta, como estão as musas?”. Saudade.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Imagem: Euclides Ferreira/Divulgação