Universo, multiverso, antiverso, verso
Enildo Luiz Gouveia*
Em 06.09.2022
O conhecimento é para mim algo viciante. E para se ter conhecimento, a dúvida e a curiosidade são os primeiros passos. Não tarda para uma mente inquieta perceber que quanto mais ela sabe que sabe, menos de fato ela sabe, dada a imensidão de coisas que desconhecemos ou ignoramos. Acho que a morte coincide também com o momento em que nossa mente deixa de buscar conhecer mais e mais.
Lendo recentemente um artigo sobre Física de Partículas – Bóson de Higgs da BBC News, e o livro “O grade criador de tudo – como o cérebro humano criou o Universo que conhecemos”, do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis), ambos extremamente interessantes e desafiadores, penso no quanto distante e solitário podemos nos sentir em certas ocasiões, pois, diante de uma sociedade imediatista, materialista e acelerada, dedicar-se ao conhecimento apenas pelo prazer de conhecer, não faz muito sentido para uma parcela significativa da população. Ainda mais quando parte do que você busca conhecer não lhe é inteligível, dada a especificidade. Porém, sempre penso comigo que, se uma teoria ou descoberta científica não se faz compreensível para as pessoas além do seleto grupo dos que dominam aquela área de conhecimento, de certa forma, torna-se uma teoria ou descoberta infértil.
A diversidade de visões de mundo, de nível econômico, nos coloca em universos paralelos. Embora possamos pensar e teorizar sobre outros universos, existem multiversos reais, tangíveis, uma vez que uma pequena parcela da humanidade frequenta, desfruta de benesses inimagináveis para a grande maioria das pessoas.
A física moderna desconfia da existência de um (ou mais) outro Universo e até mesmo de um antiverso, onde o tempo se passa de forma distinta do Universo que conhecemos. Popularmente, antiverso virou sinônimo de distorção, de algo contrário ao existente, o que não me parece ser bem seu significado real. Nicolelis chega a afirmar no seu enigmático e por que não filosófico livro, que o despertar do grande criador, o cérebro humano, assinala um processo de aquisição, mas, também, de elaboração de modelos e leis que nos ajudam a viver e tornar nossa existência menos dolorosa.
E é diante do complexo e extenso leque de abstrações e reflexões, das inovações teóricas e práticas da mente humana que algo me parece igualmente interessante: o verso. Escrito ou falado, pensado e sentido, esta criação humana colabora para por um pouco de calmaria na mente e nos corações. Ajuda-nos a denunciar e nos encantar com a beleza da vida e, ao mesmo tempo, a pensar sobre os desafios da existência. Como dizia Paulo Lemisk, “isto de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além”. Oxalá!
*Enildo Luiz Gouveia – Professor, poeta, cantor, compositor, teólogo e membro da Academia Cabense de Letras – ACL.
Imagem: Escultura O pensador, de Rodin. Internet