O Irmão André, a Porta e suas metáforas

Por

Jénerson Alves*

Em 01.10.2022

Mais do que uma peça de junção e disjunção de espaços, a porta possui múltiplos significados. Vinicius de Moraes escreveu no famoso poema “(…) não há coisa no mundo / mais viva do que uma porta”. Ela metaforiza aberturas e fechamentos, inícios e fins, público e privado, obstáculos e travessias.

Nosso Senhor utilizou tal simbolismo para Se referir a Si próprio. “Eu Sou a porta”, disse, conforme registrado no décimo capítulo do Evangelho de São João. O Cristo representa o elo entre o céu (a perfeição) e a terra (a imperfeição).

Certamente por admirar essa Porta, o holandês Anne Van der Bijl iniciou há décadas uma instituição chamada Portas Abertas, com a proposta de servir a cristãos perseguidos sob regimes autoritários. O começo desse trabalho foi em 1955, quando descobriu cristãos carentes de Bíblias sob a Cortina de Ferro na Polônia. O Irmão André, como se tornou mundialmente conhecido, dedicou a vida para tornar conhecida a mensagem de amor trazida pelo Evangelho, inclusive com o seu lendário Fusca. A metáfora da Porta se transformou em uma verdade encravada em sua existência. Essa história é contada em detalhes no livro ‘O Contrabandista de Deus’, uma autobiografia que foi traduzida para 35 idiomas e registra mais de 10 milhões de cópias vendidas.

O Irmão André faleceu no dia 27 de setembro, aos 94 anos, deixando um legado inesquecível. Ele sempre dizia: Nossa missão se chama Portas Abertas porque acreditamos que todas as portas estão abertas, em todo o tempo e em qualquer lugar. Eu literalmente acredito que toda porta está aberta para ir e pregar o evangelho, desde que você esteja disposto a ir e não esteja preocupado em voltar”.

Hoje, vemos um Ocidente cada vez mais secularizado, materialista e ateísta, convivendo com um Cristianismo nominal. Os passos do Irmão André apontam para uma outra realidade, que vai além do nosso cotidiano nauseado. Faz lembrar de mais uma metáfora apresentada pelo Cristo: “Eis que estou à porta e bato…” (Apocalipse 3:20).

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Imagem: Portas Abertas/Divulgação