Se você me ouvisse…
Jénerson Alves*
Em 23.09.2022
Se as minhas palavras chegassem aos seus ouvidos, você saberia que o brilho dos seus olhos ilumina minha vida e que o seu sorriso é um bálsamo para a minha alma.
Se você não me negasse alguns minutos do seu tempo, teria sensibilidade para compreender que gaguejo quando tento abrir os portões do meu ser para outra pessoa, mas isso não a impede de entrar.
Se seus olhos me enxergassem, você me consolaria quando eu lhe dissesse que, por ter consciência de que sou apenas pó, me envergonho de mim mesmo. Quero fugir das minhas limitações. Anelo viver uma noite eterna, repudio a chegada do amanhecer.
Se meus convites implorando uma esmola de atenção tivessem sido atendidos – pelo menos por uma vez – eu não teria de guardar para mim mesmo a tristeza do não-ser, a saudade de um sonho, nem o riso que foi abortado da minha face fértil de lágrimas.
Se você quisesse dividir um pouco das angústias que sinto, o vazio que me enche poderia ter se esvaído e dado lugar para um mar de ternura.
Se você me ouvisse por uma vez, desenvolveria o dom de entender meu silêncio. Não gosto de jogar frases ao vento. Falo apenas o que considero importante – mesmo sabendo que, muitas vezes, minhas falas ficam presas no ar, aguardando quem as entenda…
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Imagem: Os Amantes, de Pierre-Auguste Renoir