Crônicas

Lutero também foi poeta

Jénerson Alves*

Em 28.10.2022

Um dos principais expoentes da Reforma Protestante, Martinho Lutero, também deixou um legado literário. Ele escreveu vários hinos, dos quais sem dúvida ‘Castelo Forte’ é o mais famoso. A obra presente nos mais importantes hinários das igrejas cristãs oriundas da Reforma, apresenta Deus como fortaleza, em uma clara alusão ao Salmo 46.

Embora muitos digam que a composição foi feita quando o ex-monge estava exilado no Castelo de Wartburg, os biógrafos assinalam que o hino foi escrito em 1527 – portanto, cinco anos após esse fato. Além deste, hinos como ‘Das profundezas eu clamo a Ti’, ‘No meio da vida’, ‘Cristo Jesus jaz nas fortes amarras da Morte’ e ‘Uma nova canção aqui começará’ também foram escritos pelo teólogo.

A partir dessa iniciativa, ele propiciou a criação do hinário em alemão, bem como do Catecismo e da Bíblia. Vale mencionar que esse trabalho forneceu a base para o desenvolvimento da literatura alemã. Isso porque, ao contrário dos idiomas neolatinos, a língua alemã não dispunha do substrato erudito do idioma de Cícero. Na época da Reforma, os alemães se comunicavam por meio de vários dialetos.

Em um artigo publicado na extinta revista Entre Livros, o professor Helmut Galle explica: “Antes do processo iniciado pela reforma de Lutero não existia propriamente uma ‘língua alemã’. Os dialetos do alto alemão representaram, no início da época moderna, um certo estado de transformação para o que atualmente se denomina alto alemão novo, para distingui-lo das formas anteriores, do alto alemão antigo (750-1050) e do alto alemão médio (1050-1350) – que são abstrações científicas dos dialetos falados na realidade histórica, coincidindo mais ou menos com a alta Idade Média e a Idade Média plena”.

Assim, o poeta Reformador produziu um substrato que repercutiu (e ainda repercute) na historiografia literária daquele país, que também gerou nomes como Herder, Goethe, Kant e, mais recentemente, Hesse e Kafka.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Imagem: Divulgação

 

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