O céu de Anastácio

Por

Jénerson Alves*

Em 10.02.2023

A manhã de 7 de fevereiro tornou-se nublada com a notícia da morte de Anastácio Rodrigues. Conhecido como ‘eterno prefeito’ de Caruaru, ele administrou o município de 31 de janeiro de 1969 a 31 de janeiro de 1973. Um dos principais legados de sua gestão foi a Casa de Cultura José Condé, a segunda do país, hoje, lamentavelmente, necessitando de reparos estruturais.

A partida do eterno prefeito foi noticiada pelos jornais. Afinal, o jornalismo faz o registro objetivo dos fatos. Já a literatura pede licença para imaginar a chegada de Anastácio Rodrigues aos páramos celestiais. A Bíblia nos revela algo sobre uma Jerusalém celestial, mas penso que o espírito de Anastácio tenha adentrado em uma Caruaru celestial. Afinal, o amor que ele nutria pela cidade era tal que nascera no dia 11 de maio de 1928, sete dias antes do aniversário da Princesa do Agreste. Não acho que isso tenha sido acaso ou coincidência, e sim a vida expondo símbolos – a linguagem suprema.

Acredito que a Caruaru celestial de Anastácio tenha muito da Caruaru terrestre. Talvez os bonecos dos artesãos do Alto do Moura de lá ganhem vida, movimentem-se, conversem e, sobretudo, cantem e dancem forró diuturnamente, ao lado dos anjos, serafins e querubins. Os versos de Olegário Fernandes, Amaro Matias, Cacilda Santos, e tantos outros, talvez sejam decantados em praças e esquinas. As crianças conheçam os ícones culturais, os livros de José Condé estejam nas mãos de jovens e adultos. A arquitetura não seja corroída pela poluição visual advinda do consumismo.

O céu de Anastácio é uma Caruaru com a qual todos deveríamos sonhar. O destino de uma terra está ligado ao cabedal intelectual de sua gente. Os conhecimentos fundantes da nossa história devem encontrar guarida em mentes e corações. Isso não se constrói ‘de cima para baixo’, mas ‘de dentro para fora’.

Anastácio, receba do Eterno o bálsamo que não finda. Cá embaixo, estamos nós, dando nossa contribuição para que a Caruaru que temos se transforme na Caruaru que queremos (e merecemos).

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Imagem: Asces-Unita/Divulgação