Música, poesia, capoeira e pranto no Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, no Cabo

Por

 José Ambrósio dos Santos*

Em 26.07.2024

Música, poesia, capoeira e pranto no Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, ontem, durante homenagem do Centro das Mulheres do Cabo (CMC) à contribuição de militantes negras no enfrentamento as desigualdades de gênero, raça e no combate ao racismo. Treze mulheres tiveram lembradas as suas trajetórias de luta ao longo dos 40 anos do CMC.

Depois de aplaudir as apresentações das meninas do Grupo de Capoeiras Voltas que o Mundo Dá, da cantora Ava Guimarães e da poetisa Francisca dos Santos, a advogada Lucidalva Nascimento não segurou o pranto ao ressaltar os mais de 28 mil casos de violência contra a mulher – inclusive feminicídios – nos primeiros seis meses deste ano. “Precisamos descontruir o machismo e o racismo, construir outros valores”, defendeu Lucidalva, que atuou durante 25 anos no Centro das Mulheres do Cabo. Foi ela a primeira advogada a acionar a Lei Maria da Penha no Brasil, beneficiando uma mulher assistida pelo CMC.

Em seu agradecimento à homenagem recebida, a técnica em enfermagem e massoterapeuta Vanda de França destacou o empoderamento feminino proporcionado pelo Centro das Mulheres do Cabo. Disse que foi na militância com as outras mulheres que se descobriu, inclusive na sua negritude, e confessou que antes “não era ninguém.”

As homenageadas:

Ana Veloso – Graduada em Jornalismo pela UNICAP, tem doutorado e mestrado em Comunicação pela UFPE. Empreendedora Social Ashoka, sócia do Centro das Mulheres do Cabo e do Coletivo Intervozes. Atualmente, é professora da UFPE e faz parte da diretoria da Rádio Paulo Freire FM e uma das idealizadoras e coordenadora do programa FORA DA CURVA, da UFPE. Criadora do Projeto Jovens Comunicadores no final da década de1990 para divulgar o Estatuto da Criança e do Adolescente e do programa Rádio Mulher, que foi veiculado por 10 anos em Palmares e no Cabo há 20 anos, somando 30 anos de existência.

Anaxé Gomes – Formada em Serviço Social, atua como técnica de Promoção em Direitos da Mulher e Educadora Social na Secretaria da Mulher do Recife, integra a Rede de Educadoras Populares em Saúde e a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco. Sua trajetória inclui uma colaboração significativa e afetiva com o Centro das Mulheres do Cabo, que celebra 40 anos de luta pela equidade de gênero, pelos direitos das mulheres e no enfrentamento ao racismo, e expressa um profundo amor e afeto sociopolítico ancestral por esta instituição, onde teve a honra de fazer parte da equipe, potencializando seus saberes e fortalecendo sua formação política no Projeto Pérolas Negras.

Cida Santos – Pérola Negra- Mulher negra, militante dos direitos humanos, mãe, e avó, é formada em Administração de Empresas. É uma referência na educação popular, contribuindo na luta pelo enfrentamento ao racismo, atuando por 27 anos no Centro das Mulheres do Cabo (CMC) como educadora, coordenadora de projetos, comunicadora do Rádio Mulher Cheio de Axé. Foi conselheira em diversos espaços de controle social, e é conhecida como a Pérola Negra. Define o CMC como uma escola de vida, pois foi através da instituição que reafirmou sua identidade política de mulher negra, feminista e antirracista. Atualmente, é a vice-presidente da instituição, e atua na defesa incansável dos Direitos Humanos e na luta antirracista que são suas bandeiras de vida.

Cleonice Maria da Conceição – Moradora da Charneca, é sócia-fundadora do Centro das Mulheres do Cabo (CMC) há 40 anos.

Juliana Araújo – Mulher negra, feminista, antirracista, educadora social, técnica ambiental, militante no enfrentamento das desigualdades de gênero, do Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, da lgbtfobia, e da luta em defesa dos direitos das mulheres. A partir do encontro dessas identidades ela costuma dizer que se tornou feminista. E o Centro das Mulheres do Cabo a permitiu partilhar, movimentar e se fortalecer cada vez mais. Atualmente, é educadora social da instituição.

Lucidalva Nascimento– É feminista, negra, mãe, poetisa, professora, advogada e por 25 anos atuou no Centro das Mulheres do Cabo, no Enfrentamento a Violência de Gênero contra a Mulher, Criança e Adolescente. Nesse espaço atuou como coordenadora do Programa Direitos Feminismo e Política e no atendimento e acompanhamento jurídico dos casos de violência doméstica, sendo a primeira Advogada a acionar a Lei Maria da Penha no Brasil. Foi presidente do Centro das Mulheres do Cabo. Coordenou o Fórum de Mulheres de Pernambuco, a Rede de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes de Pernambuco. Atualmente preside a Comissão de Igualdade Racial da OAB do Cabo. É pós-graduada em Direitos Humanos e especialista em Gênero.

Marlene Santana – É uma mulher negra, mãe, avó, moradora do distrito de Ponte dos Carvalhos, tendo uma relação de 37 anos com a instituição. Além disso, se somou na luta das trabalhadoras rurais, se juntando nas caminhadas e eventos na defesa das populações vulneráveis, afirmando com veemência que o Centro das Mulheres melhora a vida de todo o mundo.

Rita Silva – Tem 76 anos, mulher negra, mãe, avó, aposentada, atuou no CMC por mais de 30 anos. Foi através do Centro das Mulheres do Cabo que veio descobrir os seus direitos enquanto mulher, criando forças para mobilizar mulheres da sua comunidade para participar das ações do centro. Depois que ingressou no CMC, fez Curso de Agente de Saúde, Corte e Costura e ganhou a liberdade e o direito de se expressar. Afirma que a ONG feminista foi a melhor coisa que aconteceu na vida dela, sendo a melhor faculdade da vida.

Sandra Oliveira – Mulher negra, feminista, terapeuta comunitária, técnica em Recursos Humanos e educomunicadora. A relação com o CMC foi de amor à primeira visita, do voluntariado inicialmente até a fazer parte formal da equipe. Foi através do Centro das Mulheres do Cabo que se reconheceu feminista e mulher negra. A descoberta de ser uma mulher negra a tornou mais resistente. Ela tem na sua ancestralidade a força, garra e amor por tudo que faz. Apresenta o Rádio Mulher nas segundas-feiras – A voz da Mulher na sua comunidade, sobre direitos e políticas públicas nas comunidades e nas terças-feiras, um programa cheio de Axé, é o slogan, tendo foco nos direitos das mulheres negras e no enfrentamento ao racismo.

Sara Jorge – Mulher negra, feminista, pedagoga, terapeuta comunitária é mãe, e desde os 9 anos de idade tem uma relação com o CMC pela luta da água em Ponte dos Carvalhos, junto com a mãe sócia-fundadora da instituição. Tem como bandeira de luta uma educação antirracista. Atua na Rede de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes de Pernambuco, no Comitê de Escuta Especializada Sobre Violência Sexual e no Comitê da Marcha das Mulheres Negras de PE – 2025. É pós-graduada em Educação Infantil e Terapia Comunitária.

Simone Lourenço – 44 anos, mulher preta, mãe, pedagoga de formação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), educadora popular, atua na defesa dos Direitos Humanos há mais de 20 anos. É coordenadora geral do Fórum Suape Espaço Socioambiental e integrante da Diretoria do Centro das Mulheres do Cabo. Faz parte da Rede de Educação Cidadã (Recid).

Vanda de França – Mulher negra, ativista no empoderamento feminino e apoiadora dos direitos de escolha de cada uma (um). Atua como técnica em enfermagem no serviço público e na prática integrativa como massoterapeuta. Foi locutora do programa Rádio Mulher, sendo multiplicadora do empoderamento que aprendeu com o CMC, colocando em prática com as mulheres com quem convive.

Walkiria Alves – Bacharela em Secretariado Executivo Bilíngue pela (AESGA) Autarquia de Ensino Superior de Garanhuns, também é graduada em Psicologia pela Universidade de Pernambuco e especialista em Gestão de Negócios e Pessoas. Atua na área de Psicologia Social e Psicologia Clínica a partir da perspectiva da Psicanálise. Em 2021, assumiu a Secretaria Executiva da Mulher do Cabo de Santo Agostinho desempenhando um papel importante na defesa das mulheres. A primeira visita que fez enquanto secretária foi ao CMC, e diz que já se sentiu parte da instituição naquele momento. Além disso, revelou que encontra no Centro das Mulheres acolhimento, pertencimento e amizade. Foi a primeira da família a adentrar na universidade por volta dos 30 anos de idade.

*José Ambrósio dos Santos é jornalista, escritor e integrante da Academia Cabense de Letras.

Foto: Divulgação Centro das Mulheres do Cabo.