Missa reúne cinco gerações no Poço do Boi

Por

José Ambrósio dos Santos

Em 09.09.2024

O que levou aquelas pessoas ontem ao Poço do Boi foi um forte sentimento de renovação de identidade e de pertencimento a uma comunidade familiar que teve sua maior efervescência nas décadas de 30, 40 e 50 do século passado.

Foram muitos abraços e manifestações variadas para exprimir a alegria de reencontros de primos e primas depois de mais de 10, 20, 30 e até  60 anos, ontem, no Sítio Poço do Boi, no pé da Serra das Russas, em Pombos. A Capela do Coração de Jesus ficou pequena durante a missa celebrada pelo monsenhor Manoel Marques de Miranda, que nasceu em uma casinha simples ao lado da capela, no núcleo central da comunidade, em 1952.

Capela do Coração de Jesus

Nascidas na terrinha ou em lares de pessoas que precisaram migrar em busca de melhores oportunidades de trabalho, mais de 100 pessoas atenderam à convocação de Gracinha Miranda, irmã do celebrante. Ela queria reunir familiares e pessoas amigas em momento de alegria, celebração e congraçamento.

Um encontro de ao menos cinco gerações.

Deslumbramento com o lugar por parte de pessoas que acabavam de conhecer a comunidade deve ter sido pouco ou talvez nenhum. O pequeno lugar não tem atrativos turísticos e contam-se nos dedos de uma mão as antigas famílias que lá ainda residem, como é o caso de Manoel (Mané) de Nana, de 98 anos de idade, que mora em uma bela casa às margens do açude. Quase centenário, Mané de Nana conheceu pais e avós da maioria das pessoas que lá estiveram. E ele ainda cuida do roçado onde cultiva hortaliças, feijão, milho…

Mané de Nana na varanda da sua casa no Poço do Boi.

O que levou aquelas pessoas ontem ao Poço do Boi foi um forte sentimento de renovação de identidade e de pertencimento a uma comunidade familiar que teve sua maior efervescência nas décadas de 30, 40 e 50 do século passado. Épocas de maturidade e juventude dos avós e pais de muitos que foram se reencontrar e saber mais das suas origens, das tradições, dos festejos e das lendas, muitas lendas.

Naquelas décadas era forte a atividade de tropeiros que conduziam seus mangaios em lombo de mulas para as feiras livres de cidades próximas como Vitória de Santo Antão, Primavera, Escada e outras. O trabalho duro daqueles tropeiros e produtores rurais propiciaram a descendentes as condições de crescimento social e econômico. Há muitos profissionais liberais nos campos do direito, da medicina, das letras, da engenharia, do jornalismo, da economia, entre outros, e prósperos empreendedores.

 

Como bem disse Gracinha Miranda em um texto poético que leu após a missa, “Poço do Boi, meu pedacinho de Brasil, ainda é o meu melhor lugar”.

Paisagem do Poço do Boi

O último encontro de gerações do Poço do Boi havia acontecido há dez anos. De lá até cá muita coisa mudou, menos para a terrinha que mesmo assim continua exercendo forte atração afetiva em seus filhos.  O lugarzinho bucólico parece ter parado no tempo.

 

 

*José Ambrósio dos Santos é jornalista, escritor e integrante da Academia Cabense de Letras.