A posse de Trump: o retrocesso apocalíptico da maior democracia do mundo
Neilza Buarque*
Em 21.01.2025
O desprezo pela mãe natureza não é apenas um retrocesso, mas um sinal de apatia em relação à vida na Terra. Ignorar a emergência climática é cavar o próprio túmulo da civilização.
Dia 20 de janeiro de 2025, um dia gerador de grandes preocupações. A posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos longe de ser um marco de renovação democrática, tornou-se uma cena estranha e apocalíptica. O que deveria simbolizar a continuidade da maior democracia do mundo se transformou em um espetáculo de horror, marcado por discursos de ódio ao gênero, retórica antidemocrática e, em um gesto profundamente perturbador, Elon Musk fazendo o que pareceu uma saudação nazista. A cerimônia não só escancarou as divisões e tensões sociais que afligem o país, como também evidenciou um perigoso retrocesso na pauta ambiental, ignorando a urgência de se preservar a natureza — a base fundamental para a sobrevivência da humanidade.
O ódio semeado contra minorias, mulheres e a diversidade de gênero durante essa posse aponta para o lado mais obscuro da sociedade americana que, ao ser validado pelo poder presidencial, fere profundamente os valores democráticos de inclusão e respeito. A retórica antidemocrática que desdenha das instituições e desrespeita as conquistas civis e sociais, sugere um futuro inquietante não apenas para os Estados Unidos, uma nação que sempre foi referência para o mundo quando se tratava de liberdade e direitos.
Além disso, o retrocesso nas políticas ambientais durante o governo de Trump representa uma ameaça direta ao futuro da humanidade. Em vez de avançar em soluções para a crise climática, a posse sinalizou um desprezo alarmante pela preservação do planeta. Quando será que se entenderá que não existe humanidade sem a natureza? Me vejo diante das cenas do filme 2012, dirigido por Roland Emmerich, que faz alusão ao fim do mundo com cenas inquietantes e, pasmem, onde cientistas e líderes mundiais lutam para encontrar uma forma de garantir a sobrevivência da humanidade construindo arcas gigantes para salvar um seleto grupo de pessoas onde uns valem mais que outros. Irônico isso, não? Qualquer semelhança não é mera coincidência.
O desprezo pela mãe natureza não é apenas um retrocesso, mas um sinal de apatia em relação à vida na Terra. Ignorar a emergência climática é cavar o próprio túmulo da civilização.
A maior democracia do mundo se viu, naquele momento, enredada em uma posse que pareceu mais uma distopia do que um ato de renovação de seus ideais. Mas enquanto isso, nos resta seguir no caminho árduo, porém necessário, de construção da nossa própria democracia — frágil, sim, mas viva. É fundamental reeducar as novas gerações para que nunca esqueçam que a violência, a divisão e o ódio são profundamente anticristãos e antidemocráticos. Devemos ensinar aos jovens que a democracia só prospera no terreno do respeito, do diálogo e da justiça social.
É imperativo lembrar também que o maior massacre humanitário da história moderna, o Holocausto, ocorreu no século XX. Essa tragédia, alimentada por discursos de ódio e ideologias totalitárias, deve servir como um alerta eterno: não podemos permitir que esses fantasmas voltem a assombrar o mundo. A violência e a intolerância nunca podem ser aceitas como normais.
Que possamos seguir em frente com a luta pela paz, pela preservação do meio ambiente e pela democracia. Que estejamos sempre atentos para não repetir os erros do passado, e que a humanidade encontre o caminho da harmonia com a natureza e entre si.
Neilza Buarque é Gestora de Projetos Sociais, escritora, presidenta da Academia Cabense de Letras e do Conselho Municipal de Política Cultural do Cabo de Santo Agostinho.
Imagem: Internet
Parabéns pelo artigo. Agora, há discordâncias quanto ao fato dos EUA ser chamado de maior democracia do mundo, uma vez que apenas dois partidos ( que ao contrário do que muita gente pensa, são mais parecidos que diferentes) ser reversam no poder há quase 200 anos.