Pantanal tem 126% mais queimadas que em 2019

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WWF-Brasil

21.07.2020

© naturepl.com / Bence Mate / WWF

Bioma é o campeão no aumento de queimadas; Cerrado e Amazônia mantêm o maior número absoluto de registros

Entre 1o de janeiro e 12 de julho deste ano, foram detectados 2.510 focos de queimadas no Pantanal, um número 126% mais alto que o registrado no mesmo período do ano passado, quando ocorreram 1.111 focos. Isso faz do bioma o campeão de aumento do fogo na temporada 2020.

O Pantanal é um ecossistema em que o fogo faz parte de sua dinâmica natural, sendo ele a principal ferramenta para a renovação de pastagem nativa, favorecendo o rebrote de muitas espécies.

Porém, a ocorrência de incêndios (fogos fora de controle) na seca é de origem antropogênica (causado pelo homem de forma organizada – normalmente prevista em lei – ou desordenada) e está diretamente relacionada ao desmatamento, à limpeza e à reforma das pastagens. Práticas inadequadas e o uso do fogo como ferramenta de manejo sem técnicas de controle são elementos que põem em risco a conservação da maior área úmida tropical do planeta.

Em relação à média dos últimos dez anos, o número de queimadas entre 1o de janeiro e 12 de julho de 2020 aumentou 245% no Pantanal. Considerando a média dos últimos três anos, 264%. Quando analisamos especificamente os doze primeiros dias de julho de 2020, é possível observar um crescimento de 104% no número de focos de fogo no bioma: de 130 em 2019 para 265 em 2020.

A seca como agravante
Desde o início de 2020, o Pantanal vem sendo atingido por uma forte estiagem. De janeiro a maio, o volume de chuvas ficou 50% abaixo do normal. Presente em locais isolados e sem chuva suficiente para encher as áreas alagadiças, o bioma ficou mais suscetível aos incêndios.

“O fogo no Pantanal para 2020 necessita de mais cuidado do que nos anos anteriores, pois o alagamento natural que se dá na planície pantaneira está com níveis mais baixos dos últimos 30 anos”, diz Júlia Boock, analista de conservação do WWF-Brasil no Mato Grosso do Sul.

“O governo de MS, o Comitê Interinstitucional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais para MS e a sociedade civil (por meio do Observatório do Pantanal) vêm se reunindo para elaborar ações de prevenção e de contingência. O trabalho em conjunto é de suma importância, tanto pelo alerta da sociedade sobre os danos humano e ambiental das queimas nos três países onde o Pantanal se encontra (Brasil, Bolívia e Paraguai) quanto pelo trabalho integrado de fiscalização e combate aos incêndios florestais. O fogo não respeita fronteiras”, diz Julia.

O problema se agravou ainda mais porque 2019 já havia sido um ano seco no Pantanal e o estresse hídrico se acumulou. Para piorar, o fenômeno climático La Niña, previsto ainda para este ano, tende a reduzir ainda mais as chuvas na região. Isso poderá resultar na maior seca dos últimos 30 anos no bioma, segundo especialistas, e isso em plena temporada de intensificação das queimadas.

Neste momento atual de Pandemia relacionada ao Covid-19, o fogo traz ainda outras consequências prejudiciais à saúde humana, como agravamento dos problemas respiratórios, irritação de olhos, além dos processos alérgicos e seus incômodos gerados no cotidiano das pessoas.

Amazônia
Os números do Inpe mostram um aumento de 4% nas queimadas na Amazônia nos primeiros 12 dias de julho, em comparação a 2019. Entre 1º e 12 de julho de 2020, foram registrados 941 focos, contra 909 no mesmo período em 2019.

Por ser uma floresta úmida, a Amazônia não é um bioma com característica de autocombustão (fogo espontâneo). Ou seja, a floresta só pega fogo em áreas secas, onde árvores foram cortadas e o fogo foi provocado pela ação humana. A queimada é um método amplamente utilizado para limpar terras desmatadas. Esse desmatamento, por sua vez, está ligado à prática de grilagem. Após a derrubada da floresta, a madeira é deixada em processo de secagem por alguns meses e, depois, é incendiada para abrir espaço para pastagem ou agricultura – ou para a especulação imobiliária envolvendo o roubo de terras.

No acumulado do ano, entre 1o de janeiro e 12 de julho, a Amazônia – onde estão concentrados os esforços do poder público no combate ao fogo – teve registrados 8.846 focos de queimadas: uma queda de 23% em relação ao mesmo período de 2019, quando ocorreram 11.515 queimadas.

Apesar da redução em relação ao ano passado, o número de queimadas na Amazônia aumentou em comparação às médias históricas para o mesmo período. A explicação para isso é que 2019 teve um primeiro semestre extraordinariamente incendiário. No período até 12 de julho, o ano de 2019 foi o segundo com mais queimadas na Amazônia, atrás apenas de 2016, quando foram registrados 12.947 focos.

Em 2010, o número de queimadas no período entre 1o de janeiro e 12 de julho de 2020 superou a média dos últimos 10 anos em 17% na Amazônia. Considerando a média dos últimos três anos, o aumento foi de 1%.

Cerrado
No período entre 1o e 12 de julho, o Cerrado teve 1.800 focos de queimadas, um aumento de 16% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 1.549 focos.

O Cerrado foi o bioma brasileiro com o maior número absoluto de focos de queimadas em 2020 até 12 de julho: 10.213. O valor, porém, é 6% menor que o registrado no mesmo período do ano passado (10.832).

Assim como ocorreu na Amazônia, apesar da queda em relação a 2019, o número de queimadas acumuladas no Cerrado em 2020 também está acima das médias históricas. O número de queimadas no período entre 1o de janeiro e 12 de julho de 2020 superou a média dos últimos 10 anos em 6% no Cerrado. Considerando a média dos últimos três anos, o aumento foi de 11%.

Ao contrário do que acontece na Amazônia, o Cerrado tem uma maior frequência de focos de fogo de origem natural. O fogo no Cerrado é considerado um distúrbio natural, integrante da dinâmica do bioma. As queimadas naturais podem ser importantes para a manutenção dos processos ecológicos e da biodiversidade, assim como ocorre, por exemplo, em savanas da África ou nas florestas da costa da Califórnia. Isso é possível porque, ao longo da evolução, a vegetação do Cerrado se adaptou às queimadas sazonais. Por causa das cascas grossas, as árvores não têm seu cerne atingido pelo fogo e voltam a brotar rapidamente.

Apesar de sua boa adaptação ao fogo, o Cerrado é prejudicado pelas queimadas de origem humana – que são utilizadas no bioma especialmente para estimular a rebrota das pastagens e para abrir novas áreas agrícolas. Essas queimadas de origem humana causam perda de nutrientes, compactação e erosão dos solos, um problema grave que atinge enormes áreas.

Dependendo das condições climáticas, essas queimadas tendem a se intensificar, gerando temperaturas extremamente altas que podem eliminar a vegetação completamente, além de degradar o solo. Além disso, com o uso proposital do fogo, a frequência de queimadas é excessiva e não há tempo para que os brotos produzam a casca protetora que permite a sobrevivência da árvore nas queimadas naturais anuais.