5 relatos de migrantes durante a pandemia do novo coronavírus

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Médicos Sem Fronteiras

Em 29.07.2020

Refugiados compartilham suas experiências em meio à crise causada pela COVID-19

Em todo o mundo, refugiados, migrantes e deslocados internos veem sua situação se deteriorando à medida que o número de casos de COVID-19 aumenta. Enquanto as recomendações das autoridades sanitárias envolvem distanciamento social e higienização das mãos para se proteger do vírus, essa população muitas vezes sequer tem água para beber e vive em tendas apertadas com suas famílias. Muitos ainda têm problemas maiores, como uma guerra que não para por causa da pandemia. MSF atua em mais de 70 países para levar serviços básicos de saúde a essas pessoas vulneráveis. Confira cinco relatos que mostram como migrantes e refugiados estão vivendo essa crise sem precedentes:

1. Ibrahim, 60 anos – Iraque

“Eu moro no campo de Laylan há cerca de um ano. Nós sabemos que existem maneiras de proteção contra a COVID-19, como usar máscaras e ficar distante de outras pessoas, mas aqui cinco pessoas vivem em cada barraca e quatro tendas usam o mesmo banheiro. A limpeza no acampamento depende dos hábitos de cada família. Há um mês, nos deram barras de sabão, mas isso não é suficiente para limpar banheiros. A quantidade de sabão também não é suficiente para uma família grande e agora não tenho conseguido tomar banho. A água disponível para beber aqui contém sais, e temos que ferver antes de usar. Outro grande problema é a falta de comida. Por isso tudo, nos sentimos esquecidos.”

2. Mohtar, 31 anos – Grécia

“As tensões aumentaram dramaticamente e há muito mais violência desde que ficamos confinados nos campos por causa das medidas de bloqueio impostas pelo governo. E a pior parte é que nem as crianças conseguem mais sair. Para nós, estar em Moria é o pior vírus, não a COVID-19. Quero dizer ao governo grego e à Europa que a razão de eu estar aqui é porque meu país falhou em proteger a mim e a meus filhos. Se você assistir agora às notícias sobre o que está acontecendo no Afeganistão, verá que meu país não é seguro – crianças e famílias são mortas em ataques a bomba o tempo todo. Viemos para cá para salvar nossos filhos e oferecer-lhes um futuro melhor, mas precisamos de ajuda.”

3. Abou Fadel – Síria

“Eu estou apenas sobrevivendo. Pego dinheiro emprestado de amigos e parentes sem saber quando poderei pagá-los ou sequer se conseguirei fazer isso antes de morrer. Recebemos algumas doações de organizações humanitárias, mas não são regulares. Esqueci como era minha vida antes da guerra. Eu só quero voltar ao ano passado, quando o regime nos bombardeava de tempos em tempos. Pelo menos, não havia tropas terrestres nos ameaçando.”

4. Shokutara, 20 anos – Bangladesh

“Estou preocupada com a COVID-19, porque temos informações sobre o vírus. Recebemos muitos conselhos sobre como evitá-lo com boa higiene, tomando cuidado ao espirrar e lavando as mãos antes e depois de comer. Mas estamos muito preocupados. As pessoas nos dizem para manter distância dos outros, mas isso não é possível quando vivemos tão perto. Mesmo assim, tentamos da melhor maneira possível. Para comprar comida, meu marido coloca uma máscara e vai ao mercado.

Estou feliz aqui porque quando morávamos em Mianmar enfrentávamos muitas dificuldades e vivíamos com medo. Eles nos torturavam. Se íamos a uma unidade de saúde, tínhamos que esperar muito tempo e nos cobravam muito dinheiro.

5. Karla Patrícia Gámez – México

“Sou de Honduras e mãe solo. Em 20 de junho de 2019, entrei no México com meus cinco filhos. A Comar (Comissão Mexicana de Ajuda aos Refugiados) me auxilia e tenho toda a documentação necessária, mas agora, por causa da COVID-19, não receberei o visto humanitário.

Médicos Sem Fronteiras me traz comida todos os dias e água para beber a cada duas semanas. Vi muita gente que está sofrendo, estão nas ruas ou nos parques. Meus filhos sentem que estão em uma situação difícil porque estão trancados, mas pelo menos eu me sinto muito feliz porque estou bem e estou com eles. Estamos todos juntos.”

Foto: Anna Pantelia/MSF