Lágrimas para Ennio Morricone

Por

Jénerson Alves*

Em 31.07.2020

Neste mês de julho, o mundo chorou dando adeus a um maestro inigualável: Ennio Morricone. O italiano que compôs trilhas sonoras que marcaram a história do cinema entrou no silêncio eterno no último dia 06. Ele tinha 91 anos e estava internado em uma clínica em Roma, após fraturar o fêmur. Pouco antes de dar o fôlego final na sinfonia da vida, escreveu o próprio obituário. Em um dos trechos, dá “o adeus mais doloroso” à sua esposa, Maria Travia, registrando o renovo do “extraordinário amor” que os uniu e que ele lamentava abandonar.

Esta sensibilidade no momento de sua morte era constatada em seu trabalho ao longo da vida. Nascido em Roma no dia 10 de novembro de 1928, começou a compor com seis anos de idade. Sua estreia no cinema foi em 1961, com a música de ‘O Fascista’, filme de Luciano Salce. A partir de então, compôs mais de 500 trilhas para o cinema e a televisão. Entre os filmes, podemos citar ‘Decameron’, de Pier Paolo Pasolini; ‘Os Intocáveis’, de Brian de Palma; ‘Cinema Paradiso’, de Giuseppe Tornatore e ‘Ata-me’, de Pedro Almodóvar.

Uma das obras marcantes com a assinatura do maestro é ‘A Missão’ (1986). Dirigido por Roland Joffé e estrelado por atores como Robert De Niro, Jeremy Irons e Liam Neeson, o filme aborda a missão dos jesuítas nas terras brasileiras. A obra é recomendada pelo Vaticano, como uma expressão da identidade jesuíta do Papa Francisco, que explica sua preocupação ambiental. Diga-se de passagem, o fundador da Companhia de Jesus foi Santo Inácio de Loyola, celebrado no dia de hoje (31 de julho).

“A música é a única arte verdadeira que nos aproxima verdadeiramente do Pai Eterno, e da Eternidade.”

Ennio Morricone

É possível afirmar que o compositor nutria um afeto especial por este filme. Certa vez, em entrevista ao jornal Faro de Roma, Morricone afirmou: “Não pensem que eu me emocione com facilidade. Chorei somente duas vezes, pelo filme ‘A Missão’ e ao encontrar o Papa”, disse, referindo-se a um encontro com o Sumo Pontífice ocorrido em 2014. A partida de Ennio Morricone nos deixa uma lição, de que a Música não consiste apenas em uma combinação de sons, mas é uma expressão de fé, como ele mesmo disse: “A música é a única arte verdadeira que nos aproxima verdadeiramente do Pai Eterno, e da Eternidade.”

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel.