Irmão não vota em irmão

Por

Erivaldo Alves*

Em 31.07.2020

No ano de 2012 fui incentivado por um grupo de amigos e fiz uma inserção na política partidária como candidato a vice-prefeito do Cabo de Santo Agostinho. Por pouco não cheguei lá (risos). No entanto, tive muitos amigos que me queriam bem, mas que me advertiram: Pastor Erivaldo, o senhor vai se corromper, pois a política danifica o caráter...”. Ainda por cima tive que assistir, sem nada poder fazer, mais de uma centena de fiéis saindo pelo ralo escandalizado com a minha postura política naquele momento. Conversando com um colega pastor sobre o assunto ele me fez entender que política não corrompe ninguém, mas revela os corruptos”.

Passado o calor dos palanques, ‘revelados’ os pecados que eu não tinha e, principalmente, os que eu de fato carregava, aprendi as seguintes lições:

1- Que tinha mais amigos fora do círculo religioso do que dentro do próprio círculo de fé;

2 – Minha visão político-religiosa era ingênua e romântica;

3 – Que meu papel enquanto sacerdote engajado social e filosoficamente tinha lugar de maior destaque do que minha vocação político-partidária;

4 – Que o que disseram de mim que me desagradou ainda foi pouco, pois se me conhecessem de fato teriam dito muito mais;

5 – Que minha família é de fato com quem eu posso contar;

6 – Que tenho mais recursos do que de fato achava que tinha, pois muita gente me pediu ajuda e eu pude ajudar;

7 – Que “política e religião não são antagônicas”;

8 – Que o diálogo “eu e tu” deve continuar sempre;

9 – Que ajuda/cooperação é diferente de simplesmente doar;

10 – Que o velho Saulo de Tarso tinha razão ao vaticinar: “Todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus”.

Sabedor que religião e política, neste País, se vinculam desde sua gênese (Robinson Cavalcanti, 1988), e que a Constituição Imperial de 1824 estabelecia a igreja Católica Apostólica Romana como a religião do Império – e que a mesma Constituição chamava para o Imperador a responsabilidade última sobre os assuntos eclesiásticos do País e que durante a vigência desta Constituição os não católicos eram, de fato, cidadãos de segunda classe no Brasil – não é de admirar que ainda hoje haja tanta resistência aos chamados “protestantes ou evangélicos” no cenário onde as coisas acontecem.

*Erivaldo Alves é pastor Batista com formação nas áreas Teológica, Filosófica, Gestão Escolar e Capelania. É membro da Academia Cabense de Letras.

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