O casulo do suicida

Por

Valéria Saraiva*

Em 03.08.2020

Estou lendo um livro de Augusto Cury: O vendedor de sonhos. Ele aborda a questão do suicídio. Fala também que vivemos em uma sociedade doente. Já ouvi falar em algum lugar que o suicida não quer se matar. Ele quer matar a dor que sente. O livro fala que o suicida é egoísta porque quando toma a decisão de se matar não leva em consideração o sofrimento da família.

Às vezes estamos tão concentrados nos nossos problemas que não nos damos conta que existem pessoas passando por situações muito piores. Mas somos egocêntricos demais pra perceber isso.

Claro que ninguém está na sua pele pra saber o que você está sofrendo. Só quem calça seus sapatos e percorre o seu caminho é você.

Lembro-me de uma frase do teólogo Leonardo Boff: “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto.”

Não podemos exigir que alguém que teve todos os privilégios como boa educação, saúde, consiga se colocar no lugar de alguém que vive marginalizado. Ou vice-versa. Recordo-me da época quando eu era criança e que felicidade pra mim era ir com meu pai e meus irmãos comprar um sorvete no sábado, depois da praia. Mas os anos vão passando e vamos nos esquecendo esses pequenos prazeres.

Infelizmente, quando sofremos nos fechamos em um casulo e dificilmente percebemos o mundo ao redor. E às vezes precisamos de uma sacudida pra despertar. Às vezes essa sacudida pode ser uma perda, uma doença, uma mudança. E temos que escolher nos deixar consumir pela dor ou erguer a cabeça e lutar.

A vida é uma sucessão de escolhas. Quando preferimos não escolher nada, entregamos a outra pessoa a decisão e arcamos com as consequências.

Todos os dias eu escolho seguir em frente. Hoje não tenho os mesmos sonhos da minha infância, nem a mesma ingenuidade. Mas cultivo novos sonhos e metas. Porque a vida é isso, uma eterna busca. Por mais que o tempo passe, sei que ainda tenho muito a aprender, livros pra ler, filmes pra assistir e lugares pra conhecer. Sei que a vida tem muito a oferecer e espero estar aberta a isso.

Essa pandemia deu uma freada em alguns planos, mas enquanto ela não passa, sigo escrevendo. E como dizia Renato Russo: “Mas é claro que o sol vai voltar amanhã mais uma vez, eu sei.”

Vai voltar sim. Todos os dias ele volta. É Deus dando uma chance pra gente escrever uma nova página da nossa vida. Aproveite.

*Valéria Saraiva é poetisa, enfermeira e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às segundas-feiras.