Uns eram pais, outros eram filhos

Por

Ayrton Maciel*

Em 09.08.2020

Um dia antes de hoje, 100 mil vidas perdidas. O primeiro dia depois de ontem deveria ser de abraços e beijos virtuais, por causa da pandemia. Quantos milhares desses eram pais? Quantas dessas vidas iriam declarar, nesta data: “parabéns, pai”? Quantas iriam responder: “obrigado, filho; obrigado, filha”?

O coronavírus 19 está sendo impiedoso. Cruel é quem a ele se aliou, por negacionismo, anticiência, preconceito, desprezo, omissão, indiferença, alienação ou cegueira deliberada. Como na Teoria do Avestruz, negar, negar, negar, pois se livra do dolo, não caracterizando a culpa.

Os 100 mil e mais vidas perdidas não tiveram culpa. No máximo, acreditaram em quem negou. Se não creram, vítimas são da fatalidade ou do descuido. Crime é negar, dolo comete quem nega a ciência. O que se passa com quem acredita que a terra é plana ou que “a vacina mata e, não, cura”?

Talvez ninguém assuma a responsabilidade, nem alguém seja responsabilizado. Talvez fique o dito pelo não dito: “É tocar a vida”.

Um dia depois das mais de 100 mil vidas perdidas, é Dia dos Pais. Para pais e filhos desta tragédia humana, não haverá parabéns nem obrigado, e impensáveis serão os beijos e abraços. O mundo deu marcha à ré, o Brasil acelerou.

Um Dia dos Pais sob pandemia, 100 mil e mais vidas perdidas. Quantas dessas eram pais? Quantas eram filhos? E hoje já não dizem parabéns e obrigado.

Mas, o mal é para a humanidade. O mundo parado, um ano perdido na vida de todos. A quarentena isola, afasta, abate, deprime. A internet é a panaceia dos novos tempos: aproxima no olhar, reúne à distância, conforta na ausência (do abraço e do beijo).

Apesar dos tempos, hoje é Dia dos Pais neste país. É um dia feliz. Muito mais para quem pode superar a distância e receber o beijo e o abraço da filha e do filho. Eis o papel mais importante do homem, o que mais justifica a sua existência. Por mais humilde ou por mais abastado que seja, ser pai é a sua maior doação.

Um domingo de paz com a família.

*Ayrton Maciel é jornalista. Escreve aos domingos.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.